quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Rota de Colisão

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Nas férias conseguimos ler mais coisas, não é? Não que eu esteja cem por cento de férias... bom, comecei a ler o livro Rota de Colisão, da escritora Vitória Maria dia desses. Tinha visto uma entrevista da autora para a TVUEPB após o lançamento do livro, na Universidade Estadual da Paraíba, dia oito de novembro deste ano. Fiquei curiosa com a história e consegui emprestado um volume. Comecei a fazer anotações sobre o livro, mas confesso que desisti.

R.C. têm 21 capítulos curtos, linguagem simples que lembra muito a escrita de um diário, mas que aos pouquinhos vão evoluindo, a cada novo drama, e se aproximando do que a literatura conhece como "conto", ou seja, uma escrita breve focada em um assunto, com poucos personagens e um tempo determinado.

Neste livro a autora vai falar de si, vai expurgar em linhas e mais linhas, algo que lhe marcou para o resto da vida. Mas, para chegar até o drama que conduz sua narrativa, a mesma nos conta um pouco da sua trajetória como uma garota do interior da Paraíba. A conquista da universidade pública, a necessidade de trabalhar para ajudar em casa, mas também para ter independência, além das amizades e romances que lhe acompanharam no período que a história é contada. Para mim, esta é a parte mais frágil da escrita e para uma nova edição merece uma boa revisão, em todos os sentidos. Agregar (juntar) os capítulos seria algo interessante para dar mais consistência à escrita, talvez, deixando de lado, tantos vícios de linguagem e regionalismos desnecessários (se repetem muito).




Por outro lado, quando a autora foca a escrita na sua rota de colisão, a escrita se fortalece, flui. Creio que não poderia ser diferente, a evolução da escritora Vitoria Maria e também da personagem Milla.

Por todo livro destaca-se sua habilidade descritiva das pessoas - Alice, com seus olhos negros de quem não deixa passar nada" -, dos espaços e dos acontecimentos. Também são bem construídos os diálogos. São tão ágeis a ponto de nos sentirmos parte deles, enquanto leitores.

A narrativa é um desabafo. O assunto extremamente atual. A coragem da autora, do meu ponto de vista, é o que a tornará uma grande escritora, caso isso seja de seu desejo. Para muitas, Vitória Maria será uma inspiração como mulher, algo que ela deve se orgulhar.

Enfim, a leitura da obra é enriquecedora para os que estão iniciando a vida de escritor e dando as primeiras tecladas. Para mim, as recordações foram das primeiras escritas na máquina de datilografia e dos vários diários que escrevi e depois rasguei com o passar dos anos.

Ah... como os dramas adolescentes são parecidos, não importa onde vivemos, as rotas de colisão são muito parecidas. Sobre a história do livro....sim, sim, sei que não falei quase nada. Vocês terão que ler a obra e tirarem suas próprias conclusões. Certo?

Bom, para fechar, não fiz aqui o papel de crítica literária, apesar de em alguns momentos parecer que estou "pegando no pé" da escrita. Aqui, faço parte do sonho de Vitória Maria divulgando sua obra e mais especialmente, a escritora. Em tempos de pouca leitura, de livrarias fechando, faço aqui a minha parte para que os livros nunca acabem! Boa leitura.

Fica a dica!
Carol Cavalcanti


Rota de Colisão
Ano: 2017
Editora PoD - Rio de Janeiro

sábado, 24 de novembro de 2018

O homem e o trabalho no filme nacional 'Arábia', de Dumans e Uchôa

Para me fazer feliz precisa pouco. Um presente que adoro receber e uma experiência que amo compartilhar são os filmes e suas histórias. Recentemente, fui presenteada com cinco filmes e um deles é o destaque de hoje; porque você me pediu para falar sobre e também porque é um filme que vale a pena ser conhecido. Então vamos lá!




Diretores: João Dumans, Affonso Uchôa
Com: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Gláucia Vandeveld, Renata Cabral, Renan Rovida.
Gênero: Drama.
Produção: Brasileira
Ano: 2017
Duração: 97 minutos
Várias premiações, menções e participações em festivais internacionais. Nacionais? Não, não encontrei nenhum até o momento.






O filme narra, a partir da descoberta de anotações de um operário recém falecido, como foram seus últimos anos de vida e de luta para sobreviver, absorto pelo sistema de produção que engessa e desumaniza os seres humanos; o do trabalho manual, braçal, forçado e quase escravo das fábricas, das grandes fazendas produtoras de frutas e da construção civil.
O início do filme traça a trajetória de Cristiano, personagem que tenta a qualquer custo não ficar parado para não ser passado para trás. Por todos os tipos de empregos passou, mas apenas no último é que consegue perceber no corpo cansado a opressão a que ele e seus colegas eram submetidos.

" [...] Pela primeira vez parei para ver a fábrica. Tristeza de estar ali. Foi como acordar de um pesadelo [...]". 

Outro ponto interessante e que preciso tratar aqui, é do aspecto técnico do filme, da filmagem em si que parece remeter muito aos filmes realizados analogicamente. Por quase todo o filme, podemos dizer que a história é contada durante os anos 1980 ou 1990. Cidades pequenas que não evoluíram no tempo, cinzas por causa da emissão da fuligem das fábricas, puteiros de quinta categoria e a diversão ficando por conta das atividades realizadas pela própria fábrica, como se o tempo tivesse parado. Mas, lá pelas tantas do filme, Cristiano faz um ligação com um celular da era smartphone e aqui, se pudesse questionar os diretores, perguntaria: ato falho ou proposital? Deixo o questionamento para os cinéfilos de plantão.

Este não é apenas um filme sobre às condições precárias de determinados tipos de atividades ou sobre as condições mínimas de vida dessas pessoas, mas sim das consequências de todas essas relações. As pessoas adoecem, as pessoas não amam, as pessoas fogem em busca de algo melhor e acabam sendo esmagadas, e muitas vezes mortas, pelo cansaço do trabalho pesado. É um filme para valorizarmos o que comemos, o carro que temos e as estradas pelas quais dirigimos, porque esses seres invisíveis é que nos proporcionam alimentos frescos em nossas mesas, enquanto são tratados como (novos) escravos vivendo à míngua.

O quanto nós, que trabalhamos em salas climatizadas e não sabemos o que é o trabalho braçal a não ser ao vislumbrar as rugas e mãos calejadas de nossos jardineiros de três em três meses, conhecemos desses homens e mulheres que nos alimentam, mas mal tem condições de comer? Vivemos ainda hoje, aqui no Brasil, sustentados por mão-de-obra escrava? A minha leitura final, ao concluir o filme e me sentar em frente à tela do computador em uma cadeira muito confortável que comprei com meu trabalho intelectual que me causa, às vezes, rugas de preocupação, é que não conhecemos a vida real que levam essas pessoas. São invisíveis e não as valorizamos. Simples assim. Ponto.


Mas, como este blog é para falar de cultura e a sétima arte é uma delas, fica a minha dica para assistirem a um belo filme nacional, com enquadramentos interessantes e uma excelente trilha sonora. O roteiro, de tão simples e real chega a incomodar. Faca afiada.

Só posso agradecer o presente e que venham mais da mesma qualidade.

Carol Cavalcanti

Ah, sobre o título do filme é uma metáfora que caiu como uma luva, mas para entender vai ter que assistir até o final, mesmo que te incomode.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Brasil tem o maior acervo de literatura de cordel disponível para pesquisa. Você sabia?



O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPHAN) aprovou ontem dia 19 de setembro, em decisão unânime, o gênero literário cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Isso significa, além de selar que o cordel é uma expressão linguística e cultural criada no Brasil, que o país deve subsidiar sua produção, divulgação e preservação de acervo. 

Para quem desconhece, cordel são aqueles livrinhos coloridos, pequenininhos e muitas vezes expostos em varais pelas feiras livres do interior do Brasil. São obras de baixo custo para produção, mas que tem uma grande importância para a cultura brasileira e especialmente nordestina. É uma produção tipicamente nordestina. Não deixemos de destacar isto: é do nordeste, é do Brasil!


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Nos cordéis é possível conhecer a cultura nordestina através de histórias que retratam a cultura, o folclore, o sertão, as lutas de Lampião ou o amor de Maria Bonita pelo cangaceiro mais famoso que já tivemos conhecimento. Atualmente, podemos encontrar sátiras políticas e até Elvis Presley em prosa sendo declamado pelos cordelistas, que além de viverem da venda desses materiais, declamam seus versos como forma de sustento. Podemos dizer que declamar versos cordelísticos é uma profissão para muitos artistas, ainda pouco ou nada conhecidos no país. 

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Uma boa notícia é que o maior acervo de cordéis, com mais de 18 mil títulos, encontra-se no Brasil, e sob tutela da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). No ano de 2004 a instituição criou a Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, para conservar e disponibilizar aos pesquisadores interessados além de livros e periódicos, uma diversidade de cordéis e de temáticas reunidas em um só local.

A aquisição do acervo foi feita pelo Governo do Estado da Paraíba no ano de 2003 e aos interessados, as visitas podem ser agendadas eletronicamente com pelo menos dois dias de antecedência da data da visita. Acesse aqui e consulte o acervo.

Algumas obras estão expostas no Museu de Artes Popular da Paraíba (MAPP), em Campina Grande (PB), que oferece oficinas de produção de cordéis para grupos interessados. 

A cultura nordestina declamada em verso e prosa, merecidamente, agora é Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro

Fica a dica!
Carol Cavalcanti

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Meu olhar feminino sobre Livro O Conto de Aia – Parte II

A autora, M. Atwood.
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O segundo destaque, o post-it laranja, é de um recorte da página 195 do livro de Atwood. O mesmo descreve com alguns detalhes às atribuições das Tias na "educação" das Aias. As tias não eram apenas responsáveis por ensinar bons modos, com ou sem o uso de violência e de tortura, mas também a inculcar na mente dessas mulheres a importância de servir ao projeto reprodutivo e repovoar a República de Gilead, que amargava um baixo índice de fertilidade e natalidade. 



Em parte do trecho podemos perceber a importância dada a essa repovoação:

Para as gerações que vierem depois, dizia Tia Lydia, será tão melhor. As mulheres viverão em harmonia, todas numa única família, vocês serão como filhas para elas, e quando o nível da população voltar a subir de acordo com as expectativas, não precisaremos transferir vocês de uma    casa para outra porque haverá mulheres suficientes.  

Entretanto, o preço dessa dedicação é o abuso sexual por diferentes homens. Homens velhos, que provavelmente não são mais férteis, mas como Comandantes, são os escolhidos como perfeitos espécies reprodutivos. Durante à leitura do livro, essa questão também vai sendo questionada.

Quando você espera por um olhar cuidadoso, uma preocupação com essas mulheres e seu papel social, a autora nos surpreende mais ainda: 

Poderão existir verdadeiros laços de afeto, dizia ela, piscando para nós de maneira insinuante, sob condições como essas. Mulheres unidas para um fim comum! Ajudar uma às outras em suas tarefas cotidianas enquanto percorrem o caminho da vida juntas, cada uma desempenhando sua tarefa determinada. Por que esperar que uma mulher desempenhe todas as funções necessárias à administração serena de um lar? Não é razoável nem humano. Suas filhas terão mais liberdade. 

A tal tia Lydia ensina também que ser uma boa aia consiste em cuidar uma da outra para que todas sirvam ao mesmo fim. E isso poderia lhes trazer benefícios futuros. Mas, o que se conta no restante do romance de Atwood é justamente ao contrário. Aias tem algumas chances para engravidar, caso isso não ocorra, deixam de ser mulheres "privilegiadas". São descartadas.

Até agora falamos sobre aias. Mas, todas as mulheres no livro tem um papel determinado. Mesmo as mulheres inférteis, velhas e doentes, tem um papel nessa comunidade. Serão elas as mães dos bebês gerados pelas aias, mesmo que não possam parir. Há uma institucionalização do uso do corpo feminino, retratado em várias situações no livro. Aias são reprodutoras, as tias, castradoras. E, ainda tem as esposas, as Martas, que são meras empregadas e assim por diante. As mulheres no Conto de Aia de Atwood são rotuladas e exploradas, todas, de uma forma ou de outra.

O livro foi lançado em 1985 e Atwood sofreu boicote e muitas críticas das feministas. Atwood estava sendo machista ou realista? Trinta e três anos depois, Atwood deveria ser criticada ou aplaudida? Somos mais ou menos exploradas, agredidas e violentadas em pleno ano de 2018? Estamos falando de um livro, de um romance, de uma ficção. Mas, se este nos incomoda, nos dói, é porque de realidade tem de sobra. Não é?

O parágrafo termina assim:

Estamos trabalhando para atingir a meta de um pequeno jardim para cada uma, cada uma de vocês - as mãos unidas com os dedos cruzados de novo, a voz suspirante - , e essa é apenas uma, por exemplo. O dedo levantado, balançando para nós. Mas não podemos ser porcos esganados e exigir demais antes que seja pronto, não é mesmo?

E nós mulheres, como terminamos? Como vivemos hoje em pleno século XXI em nossa República de Gilead chamada Terra?

Carolina Cavalcanti Bezerra
Namorinho de Sofá

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Meu olhar feminino sobre Livro O Conto de Aia – Parte I

Capa da primeira edição de 1985

Bom, primeiro preciso contar um pouco da história deste livro em minha vida, de como ele chegou em minhas mãos. Foi numa sexta-feira à tarde, em Recife, um dia meio chuvoso em que resolvemos, eu, meu pai a quem não via fazia 10 anos e minha prima, que só conhecia por redes sociais, ir dar uma volta no shopping da cidade. A prima, leitora ávida, disse-nos esfuziante que nos levaria às livrarias. Meu pai, leitor ávido, não se opôs. Eu também não, leitora, menos ávida do que gostaria. Andamos, percorremos todos os corredores da livraria. Passei pelos livros em exposição na entrada da loja, caminhei pelas fileiras divididas por temáticas e fui dar uma volta no espaço dedicado à Filosofia. Eu queria comprar tudo, mas não me interessei por nada em especial naquele momento. Decidimos tomar um café. Meu pai com uns dois livros embaixo do braço e minha nova prima? ela tinha um bocado de livros nas mãos. Ao irmos embora, meu pai perguntou se eu conhecia a história do livro e respondi que havia ouvido falar, mais pela série de televisão e sua temática, do que pela autora ou algo mais. “Vou comprar para você”. Ao ouvir suas palavras, confesso que fiquei meio confusa, porque não queria ler o livro, tenho evitado certos assuntos pesados em minha vida, especialmente os que envolvem a violência infringida às mulheres. Por outro lado, fiquei feliz, depois de 10 anos, meu pai me dedicou um livro: “Para Carol, com carinho, sem terror. Beijos do pai. 29/06/2018. Recife”.

Comecei a ler o livro na noite do dia 30 ao voltar para casa após ter me despedido de meu pai e de uma parte de minha família que não conhecia.

O livro em sua contracapa destaca algumas recomendações: “O conto de aia é ao mesmo tempo um exercício insuperável em ficção científica e uma história moral de significado profundo” ou “O arrepiante romance de Atwood tornou-se mais vital do que nunca”, ou ainda “Ilumina brilhantemente algumas das mais obscuras ligações entre política e sexo” e por fim, “Poderoso, admirável”. Eu diria: atual e constrangedor. E por que escolho estas palavras? Porque dentre tantas, estas remetem mais ao nosso mundo, ao nosso cotidiano e nossas fragilidades.

Mas, vamos ao livro. A história se passa na República de Gilead (século XX e XXI) onde uma nova ordem social prevalece. Algo como castas são criadas e as mulheres são usadas, dentre outras coisas, para reprodução. Todas as banalidades, futilidades e frivolidades são banidas e a partir de então ou você é saudável para procriar ou será relegada a outras funções que satisfaçam os Comandantes (ou achavam que seria diferente?).

Um novo mundo estéril, mortes e deformações surgidas devido ao vazamento de lixo nuclear e doenças sexualmente transmissíveis. Este é o cenário apocalíptico da escritora canadense Margaret Atwood.

As mulheres que são escolhidas para serem reprodutoras (não como barrigas de aluguel ou para fertilização em laboratório, são violadas por quantos Comandantes sejam necessários até que engravidem), são chamadas de Aias e se vestem de vermelho. Usam uma espécie de chapéu branco que as impede de ter uma boa visão sobre tudo e todos. Na primeira parte do livro, a autora descreve e detalha as divisões em castas, as roupas que cada um usa e as funções a serem exercidas, o que nos traz, na leitura, uma sensação de opressão e de agonia.

A mulher é o foco do romance. E independente da casta a qual está submetida, é uma mulher submissa. Oprimida.

Durante a leitura do livro eu grudei aqueles papeis coloridos em algumas passagens. Na verdade destaquei sete passagens e pretendo relê-las e escrever sobre o que senti nesses e em outros momentos do livro. O primeiro destaque dado na narrativa foi com um post-it rosa, na página 36, capítulo cinco intitulado Compras:

Agora andamos pela mesma rua, aos pares de vermelho, e homem nenhum grita obscenidades para nós, fala conosco, toca em nós. Ninguém assobia.

Atwood nos mostra o lado bom do novo mundo onde as mulheres são respeitadas. Ser uma Aia, que de tamanho valor tem, é ser reverenciada por onde passa. Mas, tal reverência ocorre apenas porque seu ventre é fértil. Você não é mais um pedaço de carne, não como antes. Sem assobios. Foi assim que me chegou essa primeira leitura e um questionamento: mas, a que preço?

O segundo post-it, que é laranja só para matar a curiosidade de vocês, será o mote para a próxima reflexão, em breve. Após sentir mais as palavras, dormir, sonhar ou não, acordar e sentir novamente como a leitura mexeu comigo. Preciso digerir o que acabei de ler hoje, dia 11/07/2018.

Desculpem a simplicidade nas palavras e no relato geral da trama, mas a intenção é ser breve e ao mesmo tempo deixar um fio de curiosidade para prováveis futuras leitoras. Sim, estou falando com as mulheres. Leiam o livro antes de ver a série The Handmaid’s Tale. Se possível, nem vejam a série, o livro basta.

Carolina Cavalcanti Bezerra
Namorinho de Sofá

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Um piano para Campina

Entre os dias 07 e 13 de julho acontece o IX Festival Internacional de Música de Campina Grande. E nos dias 14 e 15, acontecerá o 2º Fimus Jazz. As apresentações poderão ser conferidas em sua maioria no Teatro Municipal Severino Cabral, mas também em igrejas, praças e outros locais da cidade. Basta conferir a programação em www.fimus.art.br

Hoje, queremos divulgar a iniciativa dos coordenadores e diretores do festival, que lutam bravamente para consolidar a música clássica e instrumental em nossa cidade em detrimento a um maior apoio aos forrós eletrônicos, safadões e seja lá mais quem que não vale nenhum destaque maior de nossa parte.


No mesmo dia da abertura, fomos convidados a fazer parte de uma grande iniciativa: a compra de um piano de meia cauda para o TMSC. Uau! Que ousadia!? Mas, não. Em tempos de corte de verbas nas áreas de música e educação, só para citar as áreas que mais sofrem, não podemos deixar de achar louvável a iniciativa dos professores da UFCG, Vladmir Silva e Carlos Alan Peres da Silva. Para se manter um festival deste porte, internacionalmente reconhecido (talvez bem mais conhecido fora do que dentro de nossa cidade, quiçá pais!) a proposta é ousada. Amealhar, com pessoas físicas e jurídicas qualquer valor, com o objetivo de alcançar algo em torno de R$ 130.000,00. Mais ousado ainda é o prazo estipulado pelos idealizadores do festival. Nove meses para a compra do piano a partir de agora!!! Uau!!! 



Então pessoal, Namorinho de Sofá não só apoia a iniciativa, como fará sua contribuição. E, convidamos a todos que gostam de uma boa música a colaborarem também. Compartilhem essa informação com o maior número de pessoas e não deixem de prestigiar o festival que está em sua nona edição. 

Doações de qualquer valor pelo Banco do Brasil
Agência 1591-1
Conta Corrente: 18.490-X (Fundação Parque Tecnológico da Paraíba)

Fica a dica!
Namorinho de Sofá

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Wild Wild Country, sim...wild, wild!

Vou falar sobre Osho (Bhaghaw Shree Rajneesh) sem saber nada, a priori, dele; mas como acabei de assistir ao documentário sobre sua vida e a produção me intrigou, vou dividir com vocês algumas observações. 



Até então, de Osho só sabia de suas frases e pensamentos soltos postados na internet. Vamos lá!

Primeiro:

Wild Wild Country (EUA, 2018) é um documentário produzido pela Netflix, dividido em seis capítulos de aproximadamente uma hora cada. Conta a história da transferência do guru da Índia para os Estados Unidos da América, e uma controversa relação de amor e ódio construída por uma suposta seita que queria transformar o mundo (exagero?) em tons lilás de alegria. Uma "entidade" que atraiu milhares de pessoas para o Condado de Wasco, no Estado de Oregon, para uma filosofia de liberdade sexual, de fraternidade e de vida em comunidade. Utópico? A rapidez com que a comunidade se expandiu nos EUA em quatro anos de existência é surpreendente. Fora seus seguidores em outros locais do mundo. O documentário apresenta relações de dominação claras, há uma linha de hierarquia bem estabelecida durante o desenrolar da produção e ficamos consternados com a capacidade histérica que estes movimentos "religiosos" tem nas pessoas. Não fica claro a quantidade e a origem de tantos seguidores, mas são de todas as partes do mundo e de todas as classes sociais (sua grande maioria com dinheiro, pois quem sustentaria um guru com relógios cravejados de diamantes, Rolls Roys e armas de guerra?). 

Segundo:

Nos cinco primeiros episódios, Osho, sua comunidade e especificamente sua secretária pessoal Ma Anand Sheela, são apresentados como pessoas que querem, a qualquer custo, transformar o modo de se viver em comunidade. Não somente a alegria é apresentada como algo essencial para aquele tipo de vida, mas também a obsessão em se impor tal modo de vida. Mesmo fora de seu país, um grande pedaço de terra no Oregon é adquirido e uma cidade completa é construída. De refeitórios, casas e até um sistema de saúde completo são construídos. Assim como um sistema bancário. Todos começam a se vestir com o mesmo tom de roupa vendidos exclusivamente nas dependências da comunidade. Come-se, bebe-se e se medicam de acordo com o que a comunidade oferece. O sexo, pode ser feito às claras. O treinamento com armas, também. Em um determinado momento do documentário, Sheela que é descrita como uma sacerdotisa, diz que na comunidade não há relatos de doenças venéreas (?). No último episódio, a narrativa é controversa, porque até então todo o documentário relatava um modo de vida fanático e histérico, onde pessoas pulavam, dançavam e andavam nus, como se milhares de pessoas fizessem isso em frente às câmeras naturalmente todos os dias.

Terceiro:

Durante todo o documentário, que é americano, tem-se a impressão que algo de errado acontecia. Vemos os americanos se defendendo. Vemos uma pequena cidade perdida no tempo e no espaço, que com cerca de 90 habitantes, vai sendo desmontada, sendo desmoralizada e dominada. Nomes de ruas são trocados, surge uma polícia altamente armada e vestida de rosa que observa e ameaça aqueles pobres cidadãos que se divertiam tomando café no final do dia na única cafeteria da cidade de Antelope. Surreal para o que entendemos do grande Estados Unidos da América. Parece ter sido um caso isolado na história daquele país. Entretanto, no último episódio, a narrativa deixa em dúvida para nós espectadores de que lado está o bem e quem são os bad guys da história. Se você prestar bem atenção e não tiver se contaminado por todo o relato, a narrativa questiona se realmente aquela representação, aquele Osho (em poucos palavras, osho, significa na cultura japonesa "mestre"), existiu para trazer alegria, paz e fraternidade para os que o seguiam. 

Não vou dar spoil, vou sugerir que assistam ao documentário e tirem suas próprias conclusões. Eu não sou afeita à frases prontas, a pensamentos ilusórios de viver a vida assim ou assado para que a felicidade aconteça. Creio na ação de cada um. Não gosto de supostos Paulos Coelhos e nada que congrega mais de 10 pessoas em uma entidade me atrai. Sou avessa aos agrupamentos e sim, ao que nos ensinaram ser as seitas. Mas, não discuto a religiosidade das pessoas, apenas respeito, assim como respeito os meus pensamentos.

Repararam que não falei nada sobre Osho? Continuo não sabendo nada sobre ele. Foi um religioso ou um charlatão? Quem sou eu para julgar, não é? Mas, vale a dica de um olhar para como se propunha viver aquela comunidade. Para mim, vi em vários momentos um bando de histéricos (os seguidores), uma psicopata (Sheela) e um aproveitador (Osho). Mas, não vou julgar. Pouco sei, nada sei, menos sei ainda depois deste documentário sobre esse tal de Osho. A única coisa que tenho certeza é do poder das imagens e da construção da narrativa imagética. Mas, ai, é outra conversa!

Assistam e comentem.
Fica a dica! 
Carol Cavalcanti

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Merlí: um frescor entre as produções da Netflix

Pronto! Não foi bem uma maratona, mas consegui encerrar hoje o último capítulo das três temporadas da série Merlí, produção catalã da Netflix. Se você nunca se interessou em assisti-la, ou mesmo nunca a visualizou em sua grade de streaming, vou tentar apontar alguns pontos positivos e quem sabe, você dará uma chance ao professor de filosofia Merlí Bergeron e seus peripatéticos. 

A história é simples. Um professor de Filosofia desempregado é chamado como substituto em uma escola de ensino público e tenta, a partir de métodos pouco convencionais, atrair seus alunos para o mundo filosófico. De forma atual, falando com jovens estudantes do ensino médio espanhol, de Platão, Aristóteles e Nietzsche, até Judith Butler, todos os filósofos lembrados e seus pensamentos são trazidos para a atualidade espanhola. 

A primeira temporada, em 2015, apresentou treze episódios. O mesmo número da segunda temporada, no ano seguinte. A temporada final, em 2017, contou com catorze episódios, sendo que o último não deixa dúvidas do seu término.

Merlí é apresentado como um professor seguro de seu conhecimento, de sua atuação como professor (é daqueles prediletos, sabe?!) e de sua capacidade em atrair os alunos, não só para si, mas também para o aprendizado da Filosofia. Ele fala a mesma língua dos jovens e mesmo não querendo, envolve-se em seus conflitos juvenis e tenta, a partir dos pensamentos de Kant, Freud, Boécio, Schopenhauer, Epicuro, entre outros, ajudar seus peripatéticos.

Merlí não quer envelhecer, assim como a Filosofia nunca envelhece. Cada filósofo pensa seu tempo, mas todos os pensamentos que ainda nos influenciam, não envelheceram. São tão atuais quanto "penso, logo existo" (Descartes), e é o que o professor tenta provar a cada dia de aula. Discuti-se sobre drogas, gravidez na adolescência, homossexualidade, experimentações sexuais, suicídio. Tudo! Não faltam as discussões políticas (como a separação da Catalunha) ou sobre preconceito, além das disputas típicas de poder entre professores (quem é o mais adorado pelos alunos, por exemplo). 

O elenco é muito bom e "deixa no chinelo" qualquer série infanto juvenil que você possa ter assistido. Isso porque discute-se a Educação, aprende-se sobre Filosofia (de um jeito que muito professor universitário não consegue fazer) e sobre a vida. E ainda, alguns episódios tem gratas surpresas, mas não darei nenhum spoiler, não hoje.

Para quem não sabe nada sobre Filosofia, esta é uma boa oportunidade. Não somente pelo aprendizado, básico e simplista claro, mas para não sair por ai falando frases do tipo "a filosofia da empresa" ou "a minha filosofia de vida", como se a não-ciência Filosofia se resumisse a tão pouco. Também é uma ótima oportunidade, nos tempos que vivemos em terras tupiniquins, para rever e refletir sobre a exclusão da Filosofia (assim como da Sociologia e das Artes) do currículo escolar. 

A série Merlí ajuda na reflexão sobre estes e outros assuntos, é muito atual não só para o cotidiano espanhol, mas para o nosso também. Discute-se a escola pública, a valorização do professor, a importância de currículos alternativos e muito mais. Mas, caso você não se interesse por nada disso, tem ainda as belas atuações, o roteiro comprometido e engraçado em determinados momentos ou um imperativo categórico para te tirar o juízo. Ah, tem também a Espanha. Bela! 

Para quem é da época em que as séries para jovens não traziam reflexão sobre nada a não ser roupas, carros, namorados, Merlí é um frescor para as mentes que não se cansam do conhecimento. 

Bom....mas, apagando tudo que foi dito anteriormente...é uma ótima série, independente do que você possa desejar dela. Um bela série e ponto final. Recomendo de olhos fechados.

Fica a dica!
Carol Cavalcanti

sábado, 24 de março de 2018

Contos que se interpenetram: leituras de Santa Rita, de José Condé

Você já ouviu falar de José Condé? Ou melhor, José Ferreira Condé (1917-1971), nascido em Caruaru (PE), jornalista e escritor? Não? Eu também não; só recentemente tomei conhecimento do escritor e de um pouco de sua obra (na verdade ainda não li nenhuma obra sua, mas, lerei). Todavia, gostaria de indicá-la como uma leitura necessária, pois nos revela, mais um "quase" desconhecido escritor nordestino de nosso imenso Brasil.

Uma fonte de leitura que pode trazer à tona o interesse pela obra de Condé é o livro Contos que se interpenetram: leituras de Santa Rita, de José Condé (Editora Dimeron, 2017), resultado de pesquisas realizadas na Universidade Estadual da Paraíba, por estudantes de Letras - Português. Foi essa obra, com cinco artigos que destrincham a obra Santa Rita (1961), que chamou-me atenção para a narrativa do escritor, que tinha como pano de fundo, além do interior do nordeste brasileiro, a visão que se tinha (será que algo mudou?) e o papel do negro após o fim da escravidão no país; inclusive em nossa literatura. 

Alguns trechos da obra Santa Rita foram destacados pelos cinco autores (Edson Tavares, Leiliane Thaís, Renally Kamilah, Nathália de Sá e Gilson Gonzaga) e nos deixam curiosos quanto a estrutura  (estilo? estética?) literária condeniana. Cada artigo opta por descrever uma "curiosidade", ou melhor, uma "repetição", uma presença constante na obra Santa Rita, e em outros textos de Condé. O bodegueiro, a chuva e o narrador, por exemplo, como coadjuvantes no texto de Condé, são ao mesmo tempo indispensáveis para a força da narrativa do escritor, assim como desempenham papel fundamental na descrição das cenas, parece-me.

O que quero dizer é que, com a leitura que fiz do livro Contos que se interpenetram... tive a curiosidade de conhecer mais sobre a vasta obra de Condé, que conta com romances e novelas. Creio que os amantes de uma boa literatura irão se interessar também. Por isso quero destacar que, Contos que se interpenetram..., apesar da escrita acadêmica, ao mesmo tempo tem um quê de literatura... não sei a palavra correta, mas uma literatura acessível, compreensível, gostosa, prazerosa. Não sei se por causa da imersão e envolvimento dos autores com a obra condeniana, ou pelo simples apaixonamento dos mesmos, visível na escrita dos artigos, o leitor envolve-se com as histórias narradas por Condé a partir dos autores deste livro. Nos sentimos parte dela. Fazemos parte daquele cenário, daquela narrativa; coadjuvantes ou não, partícipes essenciais.

Contos que se interpenetram... não é um livro apenas para consulta referencial, para quem estuda literatura, é sim, a descoberta de um novo velho mundo literário apresentado e representado por grandes escritores do cenário brasileiro. E neste hall de escritores, temos mais uma representante. 

Fica a dica de leitura.
Carol Cavalcanti


" Gumercindo fez o convite:
- Venha com a gente.
- Há, não posso, não. Preciso ir à casa da velha Agda.
- Ela pode esperar, Satu.
- Mas é um assunto urgente,
- Tolice. Ela pode esperar, A lua não! Olha só como ela está cheia.
- Está bem. Mas, vejam lá, só um pouquinho, hein?"

"Um estampido seco explodiu entre as nuvens e a chuva caiu em seguida. Chuva grossa que o vento sacode enraivecido contra o telhado do casario, contra o oitão da igreja, contra os lampiões das esquinas, e que escorre em grandes goteiras dos beirais dos sobrados. Adiante, do outro lado do rio, onde começa a mata, o temporal dilacera galhos de árvores e espanta os bichos noturnos"

Notícias:



quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Um novo tempo

Quero me aprofundar um pouquinho em alguns filmes que estão concorrendo ao Oscar este ano e que tive a chance de assistir. São eles: Me Chame pelo seu Nome, O Destino de uma Nação, A Forma da Água e Três Anúncios para um Crime. O que há em comum entre eles?

O primeiro é um pintura, uma beleza de romance homossexual, em um lugar bucólico da Itália, na década de 1980. O segundo, é um filme político, de estratégias, de um homem só tentando salvar uma nação. Na sequência temos o que parece ser um filme fantástico, com uma criatura aquática e um romance entre espécies. E por fim, uma mãe em busca de justiça pelo assassinato de sua filha adolescente. O que há em comum entre eles? 

Vamos esmiuçar mais um pouquinho. O primeiro tem como foco um amor gay, o segundo o embate entre Inglaterra e a Alemanha de Hitler, o terceiro é sobre a Guerra Fria e o lugar das minorias (negros e gays) na sociedade norte-americana, e por fim, um crime, uma adolescente violentada, morta e carbonizada. E ai, o que há em comum entre eles? Pelo meu olhar, as discriminações contra as minorias. Temos este ano filmes políticos no foco das exibições cinematográficas. E não que não mereçam, mas estarem ali, também é um ato político.

Tratar sobre tais assuntos, dar destaque, é o que temos visto recentemente nas grandes premiações de cinema, televisão e música. Mulheres lutando contra o assédio sexual e moral, baixos salários entre outros. Homens gays também falando sobre assédio. Negros e mulheres reclamando da falta de espaço e de reconhecimento!! No ano passado o número de negros entre indicados e premiados superou em muito os últimos anos, e com certeza acalmou um pouco o pessoal da linha de frente dos movimentos (considerados) minoritários.

Será que não é isso que o Oscar e outras premiações estão fazendo? Reconhecimento verdadeiro ou mais uma questão de política? O que dá para dizer - e não assisti ainda a todos os indicados - é que os filmes são excelentes, que os círculos de premiação estão de parabéns ao olhar para o cinema independente, mostrar sua existência e incentivar a exibição de filmes que não são necessariamente  super produções. Atores fantásticos nunca reconhecidos agora são favoritos (Gary Oldman e Frances McDormand), histórias já contadas são revisitadas com outro olhar (falar da Gerra Fria e preconceitos a partir de um peixão com coração humano, é bacana! não podemos negar!), o nazismo sempre dá pano para manga mesmo quando parece que já é um assunto esgotado, e mexer na ferida da ineficácia e truculência da polícia, da violência contra a mulher a partir da coragem de uma única mulher e três anúncios em uma velha estrada, é uma ótima pedida para um bom filme e boas atuações.

O que temos esse ano são filmes reflexivos. Que saibamos refletir então e que não seja apenas uma onda passageira para acalmar os sindicatos disso ou daquilo. E viva Meryl Streep que teima em não nos abandonar!!

Carolina Cavalcanti Bezerra

sábado, 27 de janeiro de 2018

'Shalom Akhshave' e o beijo que recebestes de Judas

Já no fim de minhas férias, consigo terminar o segundo, dos quatro livros, que minha mãe deixou aqui. Um deles, A Caderneta Vermelhajá foi comentado no blog. O segundo é o livro de Amós Oz, Judas (Companhia das Letras, 2014). É dele que vamos falar um pouco. Tentar "vender a sardinha", quem sabe novos leitores para o caríssimo Oz.

A capa do livro é essa ai ao lado. A obra é The Kiss (1907) de Constantin Brancusi. Fui pesquisar, porque não sabemos de tudo, e descobri que Brancusi foi um famoso escultor romeno que morreu em 1957, e a obra O Beijo, foi sua estreia no mundo das artes. Mas, deixemos de lado, por enquanto, tais questões.

Amós Oz, nascido em 1939, é considerado atualmente o mais famoso intelectual israelense. Um pacificador em seus livros e escritos, sempre em busca da união entre judeus e palestinos, é um dos fundadores do movimento Shalom Akhshav, ou Paz Agora, que entre outras questões discute e luta por uma convivência mútua entre tais povos. 

O enredo do livro, não totalmente ficcional, narra a história de três personagens que convivem durante 4 meses em uma casa, na cidade de Jerusalém, durante o inverno. Shmuel Asch é um estudante universitário falido e desiludido, que resolve aceitar um emprego na casa de Atalaia Abravanel e Guershon Wald. Shmuel está trabalhando em sua pesquisa sobre "Jesus na visão dos judeus", com especial destaque para Judas Iscariotes, e vislumbra a possibilidade de desenvolver sua tese na suposta tranquilidade e facilidade do emprego oferecido por Atalaia, em um panfleto, nos muros da universidade. Outra pergunta que Shmuel tenta responder é a de como os judeus enxergam Judas, já que este é considerado culpado por entregar Jesus à morte; especialmente pela cultura ocidental atual. O que para muitos é a causa da estigmatização do povo judeu - Judas, um judeu, ter entregue Jesus à cruz - e a desculpa para os muitos conflitos armados naquela região poderá ser a chave, para Shmuel, à sua pergunta: como os judeus enxergam Jesus?

Atalaia é um mulher misteriosa e interessante que chama à atenção de qualquer homem, imagine a de um jovem desiludido e falido (em outros sentidos, mas terão que ler o livro para descobrir). Guershon é um velho suspenso sobre muletas que passa o dia em um aposento lendo, escrevendo e discutindo com desconhecidos ao telefone. O emprego diz que Shmuel deve permanecer algumas horas com o velho servindo-lhe de interlocutor em seus debates, alimentado-o, abrindo e fechando as persianas de acordo com a necessidade, ou não, da entrada de luz, sem esquecer de alimentar o peixe no aquário, sempre nos mesmos horários. 

São 51 capítulos e um glossário ao final. Não se assustem porque são 51 breves capítulos descritivo-narrativos do dia a dia dessa convivência, onde o final de um está diretamente, ou indiretamente, ligado à próxima discussão oferecida pelos personagens; o que às vezes não nos permite um pausa de tão  ofegante que ficamos por novos detalhes. 

O que mais me encantou no livro, um aprendizado para mim, é a forma como Oz se vale das repetições minuciosamente detalhadas, mas distintas, entre um capítulo e outro, e até entre um parágrafo e outro. Ao final do livro você consegue precisamente descrever todos os personagens, mental e fisicamente, seus aposentos, sua vida e sua participação e importância na obra. Algo muito marcante neste livro, e em outras obras de Oz, é o uso de referências históricas, em especial dos conflitos entre palestinos e judeus; é quando o autor dá ao leitor a possibilidade de outra visão daquela comumente imposta. 

O que acontece ao final, Shmuel termina sua tese? Como os judeus veem Jesus e Judas? Na minha humilde opinião, de leitora, esta grande narrativa também é uma grande armadilha. Leiam e me confirmem se não estou certa. 

O que precisam saber mesmo, é que ao final, Amós Oz nos salva, a todos, independente de religião ou crença.  É o que basta. Na humanidade está à salvação. Boa leitura. 

E, como diz minha mãe, Ave Oz!

Carolina Cavalcanti Bezerra

Post Scriptum: pretendo começar a assinar meus textos, por motivos óbvios, pelo menos para mim. Os demais textos deste blog foram escritos por mim também, mesmo estando assinado por Namorinho de Sofá (está também sou eu....risos)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Oscarizáveis" 2018

Como de praxe, todos os anos divulgamos a lista de indicados ao Oscar; premiação mais famosa do cinema internacional, mas não necessariamente a melhor ou mais justa. Com certeza o red carpet mais famoso, onde desfilarão os vestidos e joias mais exuberantes do momento. Será que haverá protesto? Será que o preto será a cor predominante dos vestidos das atrizes e convidados? Veremos!
São 24 categorias que tem como maior indicado o filme A Forma da Água, que concorrerá em 13 categorias, seguido por 8 indicações do filme de guerra Dunkirk. Três Anúncios para um Crime tem 7 indicações; com 6 cada disputam os filmes Trama Fantasma e O Destino de uma Nação.

Meryl Streep está de volta com sua 21ª indicação (batendo seu próprio recorde), mas não é a favorita. Teremos dois brasileiros concorrendo, o diretor Carlos Saldanha pela animação O Touro Ferdinando, e o produtor Rodrigo Teixeira, pela co-produção de Me Chame pelo meu Nome (melhor filme).

Então corram! Se são loucos por cinema e gostam de ver antes da premiação, que ocorrerá no próximo dia 4 de março, consulte a programação do cinema mais próximo de você. Eu, terei que esperar, porque aqui em Campina Grande a predileção são por filmes infantis, comédias, ou filmes que rendam uma boa bilheteria. 

Boa sessão de cinema para vocês! E caso não saibam o que assistir, selecionamos alguns trailers. Basta clicar sobre o nome do filme que aparece em destaque no primeiro parágrafo.

Namorinho de Sofá


Melhor Filme
"Dunkirk"
"Me chame pelo seu nome"
"O destino de uma nação"
"Corra!"
"Lady Bird - É hora de voar"
"Trama Fantasma"
"The Post - A Guerra Secreta"
"A forma da água"
"Três anúncios para um crime"

Melhor Diretor
Christopher Nolan ("Dunkirk")
Jordan Peele ("Corra!")
Greta Gerwig ("Lady Bird: É hora de voar")
Paul Thomas Anderson ("Trama fantasma")
Guillermo del Toro ("A forma da água")

Melhor Ator
Timothée Chalamet ("Me chame pelo seu nome")
Daniel Day-Lewis (“Trama Fantasma")
Daniel Kaluuya ("Corra!)
Gary Oldman ("O destino de uma nação")
Denzel Washington ("Roman J. Israel, Esq.")

Melhor Atriz
Sally Hawkins ("A forma da água")
Frances McDormand ("Três anúncios para um crime")
Margot Robbie ("Eu, Tonya")
Saoirse Ronan ("Lady Bird: É hora de voar")
Meryl Streep ("The Post - A Guerra Secreta")

Melhor Roteiro Adaptado
"Artista do desastre" (Scott Neustadter e Michael H. Weber)
"Me chame pelo seu nome" (James Ivory)
"A Grande Jogada" (Aaron Sorkin)
"Logan" (Scott Frank, James Mangold e Michael Green)
"Mudbound" (Virgil Williams and Dee Rees)

Melhor Roteiro Original
"Lady Bird: É hora de voar" (Greta Gerwig)
"Doentes de Amor" (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
"Corra!" (Jordan Peele)
"A forma da água" (Guillermo del Toro)
"Três anúncios para um crime" (Martin McDonagh)

Melhor Ator Coadjuvante
Willem Dafoe ("Projeto Flórida")
Woody Harrelson ("Três anúncios para um crime")
Richard Jenkins ("A forma da água")
Sam Rockwell ("Três anúncios para um crime")
Christopher Plummer ("Todo o Dinheiro do Mundo")

Melhor atriz coadjuvante
Allison Janney ("Eu, Tonya")
Mary J. Blige ("Mudbound")
Lesley Manville ("Trama Fantasma")
Laurie Metcalf ("Lady Bird: É hora de voar")
Octavia Spencer ("A forma da água")

Melhor Filme em Língua Estrangeira
"Uma Mulher Fantástica" (Chile)
"O Insulto" (Líbano)
"Sem amor" (Rússia)
"Corpo e Alma" (Hungria)
"The Square: A arte da discórdia" (Suécia)

Melhor Design de Produção
“Blade Runner 2049”
“A bela e a fera”
"O destino de uma nação"
"Dunkirk"
“A forma da água"

Melhor Fotografia
"O destino de uma nação" (Bruno Delbonnel)
“Blade Runner 2049” (Roger Deakins)
“Dunkirk” (Hoyte van Hoytema)
“Mudbound” (Rachel Morrison)
“A forma da água” (Dan Laustsen)

Melhor Figurino
"A bela e a fera"
"O destino de uma nação"
"Trama Fantasma"
"A forma da água"
"Victória e Abdul"

Melhor Canção
"Remenber me" ("Viva - A vida é uma festa")
"Mighty river" (Mudbound)
Mystery of love ("Call me by your name")
"Stand up for something" ("Marshall")
"This is me" ("O rei do show")

Melhor Edição
"Em ritmo de fuga"
"Dunkirk"
"Eu, Tonya"
"A forma da água"
"Três anúncios para um crime"

Melhor Mixagem de Som
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Em ritmo de fuga"
"Blade Runner 2049"
"Dunkirk"
"A forma da água"

Melhor Edição de Som
“Em ritmo de fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A forma da água”
“Star Wars: The Last Jedi”

Melhor Animação
"O poderoso chefinho"
"The Breadwinner"
"Viva: A vida é uma festa"
"O Touro Ferdinando"
"Com Amor, Van Gogh"

Melhor Curta de Animação
“Dear Basketball”
"Garden Park"
“Lou”
“Negative Space”
“Revolting Rhymes”

Melhor curta
"Dekalb Elementary"
"The 11 o' clock"
"My Nephew Emmett"
"The silent Child"
"Waty Wote/All of us"

Melhor Trilha Sonora
"Dunkirk"
"Trama Fantasma"
"A forma da água"
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Três anúncios para um crime"

Melhor documentário
"Abacus: Pequeno o bastante para condenar"
"Visages villages"
"Ícaro"
"Últimos homens em Aleppo"
"Strong Island"

Melhor documentário em curta-metragem
"Edith+Eddie"
"Heaven is a traffic jam on the 405"
"Heroin(e)"
"Knife Skills"
"Traffic Stop"

Melhor maquiagem e cabelo
"O destino de uma nação"
"Victoria e Abdul"
"Extraordinário"

Melhores efeitos visuais
"Blade Runner 2049"
"Guardiões da galáxia Vol. 2"
"Kong: A ilha da caveira"
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Planeta dos Macacos: A guerra"

sábado, 6 de janeiro de 2018

Cheiro de livro em casa

Péssimo ter crise e não saber sobre o que falar, especialmente quando respira-se cultura em muitos lugares do mundo e com certeza não falta história para ser contada. O último post foi em setembro do ano passado e desde lá, nada me agradou que pudesse ser detalhado aqui. Talvez eu não tivesse boa para escrever, mas ai já é outra coisa...

Para não deixar o ano começar em branco por aqui vou falar um pouco da dificuldade de, em tempos corridos de trabalho, casa, estudos, trabalho, relacionamentos etc. se ler algo que não esteja envolvido com trabalho, casa (bulas de remédio, rótulo de produtos, receitas de pão) ou estudos. E como estar em férias serve também para colocar outros tipos de leitura em dia, vou contar um pouco do livro que acabei de ler e dos demais que povoam os cantos da minha casa.

Minha mãe chegou com essa obra no final do ano passado e deixou aqui, com outros exemplares, para eu ler. Tenho certeza que a capa lhe chamou à atenção na hora da compra (eu também teria me atraído). O livro é escrito pelo roteirista Antoine Laurain, cujas informações são praticamente inexistentes. Até na orelha do livro são apenas 9 linhas que o descrevem, brevemente. Comecei a ler o livro na quinta-feira e logo percebi que a leitura gostosa seria rápida. Terminei hoje e ontem não li mais do que 6 páginas. A narrativa se passa em Paris e conta a história de um livreiro que tenta descobrir a dona de uma bolsa perdida, sem saber sua identidade. A curiosidade do livreiro, as "charadas" sendo decifradas com a ajuda da filha inquieta e os passeios por Paris ou por outros escritores (ele é um livreiro!), fazem com que o leitor não queira descansar sem antes terminar o capítulo. Uma sacada do autor são os capítulos curtos. Talvez uma técnica dos roteiristas de TV e cinema. A leitura fica leve, as histórias vão se intercalando e os detalhes, repetidos e repetidos com certa maestria, fazem parecer que estamos ali envoltos em um grande suspense. O livro é singelo e temos aqui uma história que conta uma história, que contada entre tantas outras pequenas narrativas, é vivida por um livreiro, ou seja, um cara que conhece um bocado de histórias. Ou vocês conhecem livreiros (se é que não estão em extinção!) que exercem a profissão por sucesso, dinheiro ou lucro? Comercializar livros é uma arte, por si só já é uma história; e de amor. Ninguém vende livros por vender, sempre é uma paixão antes de tudo pelas histórias.
Bom, fica a dica levinha de leitura para iniciar o ano. O livro é da editora Alfaguara, ano 2016.

Vergonhosamente, dentre os outros livros espalhados pelos banheiro, quarto e sala e que ainda não foram concluídos estão Na Iminência do Extermínio - A História dos Judeus da Europa Antes da Segunda Guerra Mundial, de Bernard Wasserstein. O livro é de 2014 e tem 517 páginas. Não é só por isso que eu ainda não o terminei - a quantidade de páginas -, mas o motivo é que o livro é extremamente detalhista, especialmente na questão numérica de quantos eram e quantos se foram. E assim por diante. Tem um certo ar de enciclopédia nele, que cansa um pouco sua leitura. Então, este fica no banheiro e de vez em quando leio um parágrafo ou um capítulo (ai...517 páginas de letras miudinhas). 
Por fim, com um bocado de páginas também, tão grosso como uma bíblia ....E o vento levou, de Margareth Mitchell. Acho que vou morrer lendo esse livro. Eu já sou louca pelo filme e o livro é muito bem escrito, narrativa e descritivamente. Está em quase todas as listas de livros que devem ser lidos antes de morrer. Espero conseguir. O livro na versão completa tem 951 páginas, 63 capítulos, e eu estou na página 265, capítulo 16. Entendam....não é desleixo...as letras são miudinhas e outros textos acabam caindo em nossas mãos entre uma batalha e outra da Guerra Civil Americana. Mas, na verdade, para mim, é um prazer lê-lo assim, aos poucos, com calma. Foi publicado pela primeira vez em 1936, a minha edição é de 2012.

Então queridXs namoradores de sofá, leitura é tudo. Viajamos sem sair de casa, conhecemos pessoas, lugares, sem sair de casa. É pura imaginação. Prazer de ler e de aprender.

Fica a dica!
Feliz 2018!
Namorinho de Sofá