quarta-feira, 18 de julho de 2018

Meu olhar feminino sobre Livro O Conto de Aia – Parte II

A autora, M. Atwood.
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O segundo destaque, o post-it laranja, é de um recorte da página 195 do livro de Atwood. O mesmo descreve com alguns detalhes às atribuições das Tias na "educação" das Aias. As tias não eram apenas responsáveis por ensinar bons modos, com ou sem o uso de violência e de tortura, mas também a inculcar na mente dessas mulheres a importância de servir ao projeto reprodutivo e repovoar a República de Gilead, que amargava um baixo índice de fertilidade e natalidade. 



Em parte do trecho podemos perceber a importância dada a essa repovoação:

Para as gerações que vierem depois, dizia Tia Lydia, será tão melhor. As mulheres viverão em harmonia, todas numa única família, vocês serão como filhas para elas, e quando o nível da população voltar a subir de acordo com as expectativas, não precisaremos transferir vocês de uma    casa para outra porque haverá mulheres suficientes.  

Entretanto, o preço dessa dedicação é o abuso sexual por diferentes homens. Homens velhos, que provavelmente não são mais férteis, mas como Comandantes, são os escolhidos como perfeitos espécies reprodutivos. Durante à leitura do livro, essa questão também vai sendo questionada.

Quando você espera por um olhar cuidadoso, uma preocupação com essas mulheres e seu papel social, a autora nos surpreende mais ainda: 

Poderão existir verdadeiros laços de afeto, dizia ela, piscando para nós de maneira insinuante, sob condições como essas. Mulheres unidas para um fim comum! Ajudar uma às outras em suas tarefas cotidianas enquanto percorrem o caminho da vida juntas, cada uma desempenhando sua tarefa determinada. Por que esperar que uma mulher desempenhe todas as funções necessárias à administração serena de um lar? Não é razoável nem humano. Suas filhas terão mais liberdade. 

A tal tia Lydia ensina também que ser uma boa aia consiste em cuidar uma da outra para que todas sirvam ao mesmo fim. E isso poderia lhes trazer benefícios futuros. Mas, o que se conta no restante do romance de Atwood é justamente ao contrário. Aias tem algumas chances para engravidar, caso isso não ocorra, deixam de ser mulheres "privilegiadas". São descartadas.

Até agora falamos sobre aias. Mas, todas as mulheres no livro tem um papel determinado. Mesmo as mulheres inférteis, velhas e doentes, tem um papel nessa comunidade. Serão elas as mães dos bebês gerados pelas aias, mesmo que não possam parir. Há uma institucionalização do uso do corpo feminino, retratado em várias situações no livro. Aias são reprodutoras, as tias, castradoras. E, ainda tem as esposas, as Martas, que são meras empregadas e assim por diante. As mulheres no Conto de Aia de Atwood são rotuladas e exploradas, todas, de uma forma ou de outra.

O livro foi lançado em 1985 e Atwood sofreu boicote e muitas críticas das feministas. Atwood estava sendo machista ou realista? Trinta e três anos depois, Atwood deveria ser criticada ou aplaudida? Somos mais ou menos exploradas, agredidas e violentadas em pleno ano de 2018? Estamos falando de um livro, de um romance, de uma ficção. Mas, se este nos incomoda, nos dói, é porque de realidade tem de sobra. Não é?

O parágrafo termina assim:

Estamos trabalhando para atingir a meta de um pequeno jardim para cada uma, cada uma de vocês - as mãos unidas com os dedos cruzados de novo, a voz suspirante - , e essa é apenas uma, por exemplo. O dedo levantado, balançando para nós. Mas não podemos ser porcos esganados e exigir demais antes que seja pronto, não é mesmo?

E nós mulheres, como terminamos? Como vivemos hoje em pleno século XXI em nossa República de Gilead chamada Terra?

Carolina Cavalcanti Bezerra
Namorinho de Sofá

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Meu olhar feminino sobre Livro O Conto de Aia – Parte I

Capa da primeira edição de 1985

Bom, primeiro preciso contar um pouco da história deste livro em minha vida, de como ele chegou em minhas mãos. Foi numa sexta-feira à tarde, em Recife, um dia meio chuvoso em que resolvemos, eu, meu pai a quem não via fazia 10 anos e minha prima, que só conhecia por redes sociais, ir dar uma volta no shopping da cidade. A prima, leitora ávida, disse-nos esfuziante que nos levaria às livrarias. Meu pai, leitor ávido, não se opôs. Eu também não, leitora, menos ávida do que gostaria. Andamos, percorremos todos os corredores da livraria. Passei pelos livros em exposição na entrada da loja, caminhei pelas fileiras divididas por temáticas e fui dar uma volta no espaço dedicado à Filosofia. Eu queria comprar tudo, mas não me interessei por nada em especial naquele momento. Decidimos tomar um café. Meu pai com uns dois livros embaixo do braço e minha nova prima? ela tinha um bocado de livros nas mãos. Ao irmos embora, meu pai perguntou se eu conhecia a história do livro e respondi que havia ouvido falar, mais pela série de televisão e sua temática, do que pela autora ou algo mais. “Vou comprar para você”. Ao ouvir suas palavras, confesso que fiquei meio confusa, porque não queria ler o livro, tenho evitado certos assuntos pesados em minha vida, especialmente os que envolvem a violência infringida às mulheres. Por outro lado, fiquei feliz, depois de 10 anos, meu pai me dedicou um livro: “Para Carol, com carinho, sem terror. Beijos do pai. 29/06/2018. Recife”.

Comecei a ler o livro na noite do dia 30 ao voltar para casa após ter me despedido de meu pai e de uma parte de minha família que não conhecia.

O livro em sua contracapa destaca algumas recomendações: “O conto de aia é ao mesmo tempo um exercício insuperável em ficção científica e uma história moral de significado profundo” ou “O arrepiante romance de Atwood tornou-se mais vital do que nunca”, ou ainda “Ilumina brilhantemente algumas das mais obscuras ligações entre política e sexo” e por fim, “Poderoso, admirável”. Eu diria: atual e constrangedor. E por que escolho estas palavras? Porque dentre tantas, estas remetem mais ao nosso mundo, ao nosso cotidiano e nossas fragilidades.

Mas, vamos ao livro. A história se passa na República de Gilead (século XX e XXI) onde uma nova ordem social prevalece. Algo como castas são criadas e as mulheres são usadas, dentre outras coisas, para reprodução. Todas as banalidades, futilidades e frivolidades são banidas e a partir de então ou você é saudável para procriar ou será relegada a outras funções que satisfaçam os Comandantes (ou achavam que seria diferente?).

Um novo mundo estéril, mortes e deformações surgidas devido ao vazamento de lixo nuclear e doenças sexualmente transmissíveis. Este é o cenário apocalíptico da escritora canadense Margaret Atwood.

As mulheres que são escolhidas para serem reprodutoras (não como barrigas de aluguel ou para fertilização em laboratório, são violadas por quantos Comandantes sejam necessários até que engravidem), são chamadas de Aias e se vestem de vermelho. Usam uma espécie de chapéu branco que as impede de ter uma boa visão sobre tudo e todos. Na primeira parte do livro, a autora descreve e detalha as divisões em castas, as roupas que cada um usa e as funções a serem exercidas, o que nos traz, na leitura, uma sensação de opressão e de agonia.

A mulher é o foco do romance. E independente da casta a qual está submetida, é uma mulher submissa. Oprimida.

Durante a leitura do livro eu grudei aqueles papeis coloridos em algumas passagens. Na verdade destaquei sete passagens e pretendo relê-las e escrever sobre o que senti nesses e em outros momentos do livro. O primeiro destaque dado na narrativa foi com um post-it rosa, na página 36, capítulo cinco intitulado Compras:

Agora andamos pela mesma rua, aos pares de vermelho, e homem nenhum grita obscenidades para nós, fala conosco, toca em nós. Ninguém assobia.

Atwood nos mostra o lado bom do novo mundo onde as mulheres são respeitadas. Ser uma Aia, que de tamanho valor tem, é ser reverenciada por onde passa. Mas, tal reverência ocorre apenas porque seu ventre é fértil. Você não é mais um pedaço de carne, não como antes. Sem assobios. Foi assim que me chegou essa primeira leitura e um questionamento: mas, a que preço?

O segundo post-it, que é laranja só para matar a curiosidade de vocês, será o mote para a próxima reflexão, em breve. Após sentir mais as palavras, dormir, sonhar ou não, acordar e sentir novamente como a leitura mexeu comigo. Preciso digerir o que acabei de ler hoje, dia 11/07/2018.

Desculpem a simplicidade nas palavras e no relato geral da trama, mas a intenção é ser breve e ao mesmo tempo deixar um fio de curiosidade para prováveis futuras leitoras. Sim, estou falando com as mulheres. Leiam o livro antes de ver a série The Handmaid’s Tale. Se possível, nem vejam a série, o livro basta.

Carolina Cavalcanti Bezerra
Namorinho de Sofá

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Um piano para Campina

Entre os dias 07 e 13 de julho acontece o IX Festival Internacional de Música de Campina Grande. E nos dias 14 e 15, acontecerá o 2º Fimus Jazz. As apresentações poderão ser conferidas em sua maioria no Teatro Municipal Severino Cabral, mas também em igrejas, praças e outros locais da cidade. Basta conferir a programação em www.fimus.art.br

Hoje, queremos divulgar a iniciativa dos coordenadores e diretores do festival, que lutam bravamente para consolidar a música clássica e instrumental em nossa cidade em detrimento a um maior apoio aos forrós eletrônicos, safadões e seja lá mais quem que não vale nenhum destaque maior de nossa parte.


No mesmo dia da abertura, fomos convidados a fazer parte de uma grande iniciativa: a compra de um piano de meia cauda para o TMSC. Uau! Que ousadia!? Mas, não. Em tempos de corte de verbas nas áreas de música e educação, só para citar as áreas que mais sofrem, não podemos deixar de achar louvável a iniciativa dos professores da UFCG, Vladmir Silva e Carlos Alan Peres da Silva. Para se manter um festival deste porte, internacionalmente reconhecido (talvez bem mais conhecido fora do que dentro de nossa cidade, quiçá pais!) a proposta é ousada. Amealhar, com pessoas físicas e jurídicas qualquer valor, com o objetivo de alcançar algo em torno de R$ 130.000,00. Mais ousado ainda é o prazo estipulado pelos idealizadores do festival. Nove meses para a compra do piano a partir de agora!!! Uau!!! 



Então pessoal, Namorinho de Sofá não só apoia a iniciativa, como fará sua contribuição. E, convidamos a todos que gostam de uma boa música a colaborarem também. Compartilhem essa informação com o maior número de pessoas e não deixem de prestigiar o festival que está em sua nona edição. 

Doações de qualquer valor pelo Banco do Brasil
Agência 1591-1
Conta Corrente: 18.490-X (Fundação Parque Tecnológico da Paraíba)

Fica a dica!
Namorinho de Sofá