quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O cinema nacional nas nuvens: entre festivais e o sucesso de crítica internacional

O ano de 2019 tem uma safra interessante de filmes. "Pacarrete" acaba de ser o grande vencedor do 47º Festival de Cinema de Gramado, recebendo oito kikitos (melhor filme, direção, atriz, roteiro, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, desenho de som e filme pelo júri popular). "Bacurau", com a atriz Sônia Braga, vem agradando em festivais internacionais e já recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, no qual também foi indicado à Palma de Ouro (sua maior premiação) e o de Melhor Filme nos festivais de Munique e Lima. E o não menos interessante, "A Vida Invisível", do diretor Karim Aïnouz, vencedor do Prêmio Um Certo Olhar, também no Festival de Cannes, acaba de ser escolhido para representar o Brasil na lista de indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.


O enredo escolhido para representar o Oscar conta a história de duas irmãs separadas nos anos de 1950 e que tentam sobreviver à sociedade machista e paternalista da época. Fernanda Montenegro faz uma participação especial e já antecipando, creio que o filme venceu por causa da sua representatividade no cinema internacional. Não esqueçamos que F.M. foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por "Central do Brasil" em 1999. Mas, isso não quer dizer que o filme não mereça estar onde está. 

"Bacurau", produção que corria por fora pela indicação, também tem uma atriz
muito conhecida internacionalmente, Sônia Braga, natural de Maringá - PR (isso eu não sabia!) e naturalizada estadunidense (novidade para mim!). A atriz fez alguns filmes pela terra do Tio Sam, assim como participou de seriados de TV por lá (Sex and the City, CSI: Miami, Law & Order) e aos 36 anos apresentou o Oscar junto com o ator Michael Douglas. O filme perdeu por dois votos.
Bom...seu enredo é ambientado no meio do sertão nordestino e conta a história de uma comunidade que descobre que está desaparecendo do mapa. Um "faroeste caboclo", típico da produção nacional.


"Pacarrete" conta a história de uma senhora moradora de Russas, pequena cidade do Ceará, que tem como sonho apresentar uma peça de balé no meio da maior festa da cidade. Trocar o balé pelo forró, imaginem só! O filme é baseado na história de uma pessoa real que viveu 92 anos no interior cearense e era conhecida como uma mulher excêntrica que se vestia diferente e sonhava com o ensino de dança na cidade. Muitas a viam como uma moradora de rua que não dizia nada com nada, uma deslocada na cidade. Seu "nome" tem origem na palavra francesa "pâquerette" (margarida), mas na vida real era associado à loucura. Na cidade a expressão "deixa de ser pacarrete" descrevia uma pessoa que fazia loucuras, que aprontava, que era diferente.

Temos aqui, três grandes produções nacionais (o filme com Sônia Braga é co-produzido pela França). Com certeza excelentes filmes, excelentes roteiros e atuações. Mas, será que teremos, todos, acesso às obras? Em todo o Brasil? Vários motivos podem ser destacados sobre a questão, mas em especial o fato de que para concorrer ao Oscar, um dos critérios é o filme ter sido visto por um público considerável. "A Vida Invisível", que está no páreo, tem previsão de lançamento para 31 de outubro de 2019. A conta não fecha, pois dificilmente temos boas bilheterias para filmes nacionais que são independentes das emissoras de TV e muito menos salas disponíveis ao cinema de qualidade. A premiação do Oscar está marcada para 9 de fevereiro de 2020 e normalmente um mês antes os indicados são divulgados. Ou seja, serão apenas dois meses nos cinemas (!!!). Bem, mas como digo pelas redes sociais da vida "o Oscar não deve ser parâmetro de premiação", pois além de ser muito comercial, privilegia suas produções. 

- Sim, sim, eu sei. Isso vem mudando nos últimos anos. 

Vale destacar que nenhum dos filmes estreou nacionalmente. "Bacurau" tem previsão de estreia nacional amanhã. Será que vai passar aqui em Campina Grande??? "Pacarrete" não tem previsão de lançamento no Brasil, mas já foi lançado em alguns festivais internacionais. Mas, neste, temos mais fé, já que a atriz vencedora do kikito de melhor atriz, Marcelia Cartaxo, é "cajazeirense da gema" e adorada pelos paraibanos por sua versatilidade. Quem não lembra da atriz em 1985, com a sua Macabéa em "A Hora da Estrela" ou em "Madame Satã", de 2002. Sensacional!

Em nome de Namorinho de Sofá, desejamos que todos os filmes possam ter a oportunidade de serem vistos em todos os cinemas, inclusive nos de Campina Grande. "Pela sua atenção, obrigada!".

Carol Cavalcanti