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sábado, 24 de novembro de 2018

O homem e o trabalho no filme nacional 'Arábia', de Dumans e Uchôa

Para me fazer feliz precisa pouco. Um presente que adoro receber e uma experiência que amo compartilhar são os filmes e suas histórias. Recentemente, fui presenteada com cinco filmes e um deles é o destaque de hoje; porque você me pediu para falar sobre e também porque é um filme que vale a pena ser conhecido. Então vamos lá!




Diretores: João Dumans, Affonso Uchôa
Com: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Gláucia Vandeveld, Renata Cabral, Renan Rovida.
Gênero: Drama.
Produção: Brasileira
Ano: 2017
Duração: 97 minutos
Várias premiações, menções e participações em festivais internacionais. Nacionais? Não, não encontrei nenhum até o momento.






O filme narra, a partir da descoberta de anotações de um operário recém falecido, como foram seus últimos anos de vida e de luta para sobreviver, absorto pelo sistema de produção que engessa e desumaniza os seres humanos; o do trabalho manual, braçal, forçado e quase escravo das fábricas, das grandes fazendas produtoras de frutas e da construção civil.
O início do filme traça a trajetória de Cristiano, personagem que tenta a qualquer custo não ficar parado para não ser passado para trás. Por todos os tipos de empregos passou, mas apenas no último é que consegue perceber no corpo cansado a opressão a que ele e seus colegas eram submetidos.

" [...] Pela primeira vez parei para ver a fábrica. Tristeza de estar ali. Foi como acordar de um pesadelo [...]". 

Outro ponto interessante e que preciso tratar aqui, é do aspecto técnico do filme, da filmagem em si que parece remeter muito aos filmes realizados analogicamente. Por quase todo o filme, podemos dizer que a história é contada durante os anos 1980 ou 1990. Cidades pequenas que não evoluíram no tempo, cinzas por causa da emissão da fuligem das fábricas, puteiros de quinta categoria e a diversão ficando por conta das atividades realizadas pela própria fábrica, como se o tempo tivesse parado. Mas, lá pelas tantas do filme, Cristiano faz um ligação com um celular da era smartphone e aqui, se pudesse questionar os diretores, perguntaria: ato falho ou proposital? Deixo o questionamento para os cinéfilos de plantão.

Este não é apenas um filme sobre às condições precárias de determinados tipos de atividades ou sobre as condições mínimas de vida dessas pessoas, mas sim das consequências de todas essas relações. As pessoas adoecem, as pessoas não amam, as pessoas fogem em busca de algo melhor e acabam sendo esmagadas, e muitas vezes mortas, pelo cansaço do trabalho pesado. É um filme para valorizarmos o que comemos, o carro que temos e as estradas pelas quais dirigimos, porque esses seres invisíveis é que nos proporcionam alimentos frescos em nossas mesas, enquanto são tratados como (novos) escravos vivendo à míngua.

O quanto nós, que trabalhamos em salas climatizadas e não sabemos o que é o trabalho braçal a não ser ao vislumbrar as rugas e mãos calejadas de nossos jardineiros de três em três meses, conhecemos desses homens e mulheres que nos alimentam, mas mal tem condições de comer? Vivemos ainda hoje, aqui no Brasil, sustentados por mão-de-obra escrava? A minha leitura final, ao concluir o filme e me sentar em frente à tela do computador em uma cadeira muito confortável que comprei com meu trabalho intelectual que me causa, às vezes, rugas de preocupação, é que não conhecemos a vida real que levam essas pessoas. São invisíveis e não as valorizamos. Simples assim. Ponto.


Mas, como este blog é para falar de cultura e a sétima arte é uma delas, fica a minha dica para assistirem a um belo filme nacional, com enquadramentos interessantes e uma excelente trilha sonora. O roteiro, de tão simples e real chega a incomodar. Faca afiada.

Só posso agradecer o presente e que venham mais da mesma qualidade.

Carol Cavalcanti

Ah, sobre o título do filme é uma metáfora que caiu como uma luva, mas para entender vai ter que assistir até o final, mesmo que te incomode.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Nota de pesar para a cultura campinense


Ontem à noite estive na Tela Vídeo Locadora (Rua Índios Cariri) para constatar um fato triste. Após quase 32 anos de serviços culturais à Campina Grande a empresa vai fechar. A única locadora da cidade com qualidade comprovada de seu acervo e com um atendimento especializado e de alta qualidade vai baixar suas portas. 

Conforme consta em uma de suas redes sociais, a empresa não aguentou acompanhar o novo mercado de distribuição de vídeos que conta com a forte indústria da pirataria e os novos modelos de distribuição que tem como meio a internet. Na verdade aguentou até demais, pelo menos uns 5 anos se bem me recordo de uma das conversas que tive com o pessoal de lá sobre o assunto.

Realmente um perda considerável porque não havia algo mais aconchegante do que ir à locadora e conversar com o atendente sobre filmes, ouvir suas sugestões e sair com a sacola cheia de belas artes. A pipoca estava garantida...

Confesso que fiquei muito chateada, triste mesmo, porque em parte todos nós consumidores temos um pouquinho de "culpa", especialmente por nos adequarmos tão bem as novas facilidades para acesso aos filmes. Eu, particularmente, não acreditava que não teríamos mais locadoras, especialmente com o advento do Blu-Ray (qualidade excelente!) que por ainda ser muito caro acabava compensando ser locado por um final de semana. Se você nunca assistiu um filme em Blu-Ray não sabe o que está perdendo, a diferença é grande mesmo em relação aos filmes em High Definition (HD).

Vale lembrar também que durante um bom tempo a Tela Vídeo, que tinha em seu estoque as já inutilizadas fitas de VHS, fazia a conversão dos filmes nesse formato para DVD. Ou seja, o pessoal lá sempre deu valor à sétima arte e não deixava que você perdesse aquele filme caseiro por falta de mídia para assistí-lo. 

Últimos dias 

Com mais de 10.000 títulos em seu acervo, de todos os gêneros e de todas as nacionalidades que você possa imaginar (além das séries de TV e jogos para Play Station) a Tela Vídeo estará até mais tardar sábado 29/04 pela manhã (ou até acabar o estoque) vendendo seus títulos ainda disponíveis ao preço de R$ 5,00 os DVDs e R$ 15,00 os Blu-Rays. Ontem estive por lá e garanti alguns (vendas apenas em dinheiro).

Conversando com o responsável pelas vendas e também pelo atendimento ao público nos últimos anos ficava evidente sua tristeza. Percebi também que ter que repetir a mesma história a cada ex-cliente que adentrava ao espaço sagrado da fantasia, da história, do suspense e do terror, era cada vez mais dolorido para ele. Ele me indicou alguns filmes para comprar, eu localizei outros, conversamos mais um pouco e ele me disse que estavam pensando em criar um cineclube, mas que até essa iniciativa estava encontrando dificuldades junto à Prefeitura Municipal. 

Deixei meu telefone na intenção de participar dessa iniciativa de alguma forma. Espero que em breve possamos divulgar aqui boas notícias e boas inciativas no campo cinematográfico de distribuição de filmes para quem é amante de um bom cineminha. Se você é um desses, vamos nos unir, vamos buscar esse espaço tão carente. Com pouco mais de 400 mil habitantes somos reféns de apenas 5 salas de cinema no único shopping da cidade. E sobre a qualidade da programação....o que destacar? Filmes infantis, filmes de ação, muitas comédias, filmes em sua maioria dublados (??? não sabemos ler???), nada de filme de arte e por ai vai.

Pedimos a tod@s que compartilhem essa notícia para que possamos ter um grande número de adeptos nessa nova empreitada cultural. Para que possamos dar voz ao nosso descontentamento. Para que as pessoas saibam que gostamos de boa arte, de bom cinema. Para que saibam que também fazemos parte do mercado consumidor e só por isso já merecemos ser ouvidos.

Namorinho de Sofá

Notícias:

Blog Retalhos Históricos de Campina Grande - http://cgretalhos.blogspot.com.br/2017/04/heroina-da-resistencia-tela-video.html#.WQHC7fnyvIU

G1 Paraíba - http://g1.globo.com/pb/paraiba/jpb-1edicao/videos/v/locadoras-de-filmes-encontram-dificuldades-para-se-manter-abertas-com-avanco-da-pirataria/2597968/


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sessão de Cinema

Uma pessoa querida vive me dizendo que eu deveria ter um blog sobre cinema já que vejo muitos filmes - nem tantos quanto gostaria - e porque ela acha que meus breves comentários sobre os mesmos são  interessantes. O "breve" se refere ao fato de ser mais objetiva em redes sociais sobre os filmes que assisto, não tentando convencer ninguém da qualidade desse ou daquele filme. Entendo que gosto cinematográfico não se discute. Eu posso odiar um filme e você adorar. Perfeito! Podemos conversar sobre as diferenças e também sobre os pontos em comum. Gosto não se discute!

Pegando o mote, certa insistência dessa amiga e aproveitando para abrir os trabalhos em 2017 vou falar não tão brevemente de alguns filmes que já assisti em 2017. Comecemos com Chocolate (Chocolat, França, 2016), drama que retrata a história de dois palhaços famosos no século 19 na França, mas que dá maior ênfase para o pouco que se sabe da biografia do primeiro palhaço negro da França, o tal Chocolate do título. Além de impecável direção de arte e cenários, figurinos impressionantes, um roteiro bem escrito e atores bem preparados, o filme traz à discussão o racismo, mas mais do que isso, a visão que se tinha do africano, construída e consolidada pelas Feiras Mundiais que representavam os clãs africanos como selvagens. Especial atenção à cena em que Chocolate é confrontado no encontro com seus "irmãos selvagens". 


O próximo filme, As Confissões, uma produção ítalo-francesa de 2016 tem como seu maior trunfo - a meu ver - o elenco. Toni Servillo, Danil Auteuil, Pierfrancesco Favino, Connie Nielsen entre outros, são representantes do G-8 que se encontram para traçar os novos rumos do mundo em relação aos países de terceiro mundo. Porém, algo inesperado acontece e o suspense toma conta da produção que busca desvendar o mistério que envolve àquelas pessoas e ameça a paz mundial. O roteiro é muito bem escrito e as atuações marcantes.

Na sequência vamos tratar do musical americano La La Land (2016) que concorre a 14 Oscars. Vejam bem, do meu ponto de vista é só mais um filme. Já minha mãe adorou! Então, em quem acreditar? Em você, claro! Mas, para isso você precisa assistir ao filme e dizer se ele é lá essas coisas todas ou é apenas uma boa produção que tem como forte o figurino, os cenários e as canções. De resto, como seu colega Titanic (1997) que teve o mesmo número de indicações, não merece mais do que prêmios técnicos. Ah, é um filme sobre sonhos, praticamente sobre "the american dream of live". 

Julieta, do espanhol Pedro Almodóvar já é outra conversa. Tudo está no seu devido lugar. Como havia dito em uma rede social e que aqui repito "Não tem quem escreva melhor roteiros e tire o melhor de seus atores do que Pedro Almodóvar". O filme é um drama familiar com tudo que você possa imaginar, mas menos histriônico que outros filmes do diretor. Para quem não conhece a obra de Almodóvar pode começar com esse filme. Vale esclarecer que não estou chamando P.A. de histriônico, mas alguns de seus roteiros chegam a esse patamar. Atenção à trilha sonora, sempre emocionante e parte do filme.
Bom, para começar ficamos com essas dicas de cinema. Em breve dividirei aqui com vocês novas experiências imagéticas, tentando sempre manter o nível alto nas escolhas dos filmes, não menosprezando nenhuma qualidade de filme - menos pornôs e de terror, que não ouvirão comentários da minha boca.

Saudações cinematográficas,
Namorinho de Sofá