segunda-feira, 2 de junho de 2014

514 anos de escravidão

Namorinho de Sofá é cultura. Namorinho de Sofá lê jornal, matérias na internet e também livros. É sobre Doze anos de Escravidão a matéria dessa noite infestada de pernilongos, mas de agradável clima.

O livro de Solomon Northup que ganhei recentemente em uma viagem ao Rio de Janeiro começa assim: "Narrativas de um cidadão em Washington em 1841 e resgatado em 1853 de uma plantação de algodão perto do Rio Vermelho, na Lousiana"

Pois bem, o livro narrado pelo próprio autor relata como o mesmo nasceu livre e se tornou escravo por 12 anos de sua vida. Negro, livre, carpinteiro, cidadão de Washington, nunca tinha visto um tronco em sua vida, era bem visto nas redondezas, sabia ler e escrever e tocava violino. Era casado, tinha filhos e um teto para viver. Por um infortúnio da vida é enganado por uma dupla de brancos safados e acaba sendo tirado do seio de sua família, de sua pacata vida e castigado literalmente para que seu corpo não lhe deixasse esquecer sua cor, sua inferioridade, mediocridade e, especialmente, o seu lugar de 'menos que nada'.

A edição que me foi presenteada, igual a essa ao lado, vem com um outra capa por cima lembrando o pôster de divulgação do filme de mesmo nome, 12 Years a Slave, e um dizer que me fez querê-lo mais do que tudo naquele momento. A história de Northup foi comparada ao Diário de Anne Frank (livro que também foi adaptado ao cinema). 

Sendo somente publicado anos após sua morte o diário da garota judia Anne foi escrito por ela durante os dois anos de confinamento fugindo da morte certa imposta pelo nazismo, 

Bom, ai eu li o livro. Já tinha lido o outro e queria saber em que se aproximavam. Penso eu que na barbaridade dos fatos que levaram às escritas. Anne escrevia para idealizar e viver uma vida que não podia ser vivida, para se amparar, para sobreviver em confinamento cruel de um espaço apertado e sufocante. Por outro lado, Northurp sobreviveu para contar sua história e, como Anne, não deixar que a mesma fosse esquecida. Ambos sofreram horrores. Uma morreu o outro morreu por doze anos longe de sua família, sendo castigado, tendo seu coro esfolado centenas de vezes. 

Na página 17 logo de cara Solomon Northurp avisa que o livro é para estômagos forte e corações sinceros: "Posso falar sobre a escravidão apenas na medida em que foi por mim observada - apenas na medida em que conheci e vivenciei em minha própria pessoa. Meu objetivo é dar uma declaração simples e verdadeira dos fatos: repetir a história de minha vida, sem exageros, deixando para os outros determinarem se as páginas de ficção apresentam um retrato de uma maldade mais cruel ou de uma servidão mais severa". 

Posso dizer que eu senti todas as dores que ele sentiu através de seus relatos e que de forma simples faziam minha carne sangrar. Lógico que metaforicamente falando, porque sou branca, nasci no século 20, tenho uma irmã negra linda e não gosto de injustiças. Mas, quantos relatos eu li que me fizeram (e fazem) olhar para o nosso povo brasileiro de hoje? A que tipo de escravidão nosso povo majoritariamente negro tem que se sujeitar? 

A maioria dos pobres de nosso país e do mundo (não vamos esquecer da África) é composta de negros. Negros, negros, negros dos quais descendemos. Sim! Fiquei meio irada com a leitura porque novamente meu olhar foi descortinado e está pronto para não mais aceitar as injustiças desse mundo capitalista, globalizado, hollywoodiano! Será!?

É isso ai...sobrevivente de todas as picadas de pernilongos possíveis, detalhei pouco, mas espero que tenham curiosidade pela leitura sugerida (eu não vi o filme ainda, diga-se de passagem). E para ganhar a noite de vez, aproveitem e leiam ou releiam O Diário de Anne Frank.

Diretamente daqui....fica a dica!
Namorinho de Sofá

BAIXE AQUI O FILME O DIÁRIO DE ANNE FRANK