quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Hilda Hilst: dez anos sem a poeta das luxúrias

Hilda (de Almeida Prado) Hilst faleceu no dia 4 de fevereiro de 2004. 

Perdemos sua poesia, mas também perdemos um ser humano antenado com o mundo real, com suas belezas, mas também com suas mazelas. Contestadora, briguenta e de 'língua solta', amava os animais (em especial os cães). Amava a natureza, odiava contas e tudo mais que a rotina lhe impunha como ser humano. A bem da verdade quem conheceu a vida de H.H. sabe que ela não precisava se preocupar com essas questões domésticas, tinha sempre alguém para desobrigá-la de tais obrigações, e assim, poder trabalhar em sua escrita, em sua obra, em seu legado. Foi assim por toda a sua vida...
Google

O mote....a luxúria, é um dos sete pecados capitais. A luxúria é a perversão do ser humano (segundo o catolicismo, que delimita todas as suas vertentes). Hilda não era perversa, mas sua escrita sempre foi luxuriosa no sentido de suscitar o erotismo, o sensual, o prazer das paixões, da vida e do belo. Mais próxima do final de sua vida seus textos eram mais ácidos e dilacerantes para uma sociedade que não compreendia a contemporaneidade de seus pensamentos. Sejam nas palestras que proferiu (sempre como homenageada) ou nos últimos textos da coluna que escreveu durante alguns anos para um jornal da cidade de Campinas - SP, Hilda sempre foi direta, autêntica e verdadeira nos sentimentos que expressava e que também contestava.

 www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=CMUHE042753

H.H. faleceu na cidade de Campinas, morando em sua Casa do Sol. Ambiente límpido e puro que recebeu a energia de poetas e artistas como Caio Fernando Abreu e Lygia Fagundes Telles, sua grande amiga. 

Casa do Sol foi sua morada física, do corpo, mas também, da alma, da criação, da criatividade, das palavras doces e das palavras mais ásperas. Dos cães, dos amigos e dos curiosos. Tive a oportunidade de conhecer a escritora (por poucas horas) e seu santuário de palavras soltas ao vento e de Baco, pois fomos recebidas com uma taça de vinho. Se não tivesse ficado tão emocionada teria aproveitado mais aquela oportunidade. Não bebemos o vinho, pois era muito cedo e o motivo de nossa visita era outro; bebemos da sua presença. Me emociono de lembrar até hoje.


Das luxúrias das palavras escritas para a luxúria da música, não podemos deixar de lembrar de um de seus trabalhos, em parceria com Zeca Baleiro. A autora convidou Baleiro para musicar alguns de seus poemas. E o que se vê - ouve, melhor dizendo - é a comunhão perfeita de emoções no CD Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio. Como parceiros nas músicas podemos ouvir Rita Ribeiro, Maria Bethânia, Mônica Salmaso, Ângela Vieira, Zélia Duncan e outras.


                        
Para conhecer mais a obra dessa escritora brasileira um dos contatos é o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio (CEDAE) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Boa parte da obra da autora foi adquirida pela instituição e está sobre sua responsabilidade.



"A vida é crua. Faminta como bicos de corvos. 
                         E pode ser tão generosa e mítica: arroio, olho d'água, bebida. 
                                               A vida é líquida". (Hilda Hilst)