quarta-feira, 11 de julho de 2018

Meu olhar feminino sobre Livro O Conto de Aia – Parte I

Capa da primeira edição de 1985

Bom, primeiro preciso contar um pouco da história deste livro em minha vida, de como ele chegou em minhas mãos. Foi numa sexta-feira à tarde, em Recife, um dia meio chuvoso em que resolvemos, eu, meu pai a quem não via fazia 10 anos e minha prima, que só conhecia por redes sociais, ir dar uma volta no shopping da cidade. A prima, leitora ávida, disse-nos esfuziante que nos levaria às livrarias. Meu pai, leitor ávido, não se opôs. Eu também não, leitora, menos ávida do que gostaria. Andamos, percorremos todos os corredores da livraria. Passei pelos livros em exposição na entrada da loja, caminhei pelas fileiras divididas por temáticas e fui dar uma volta no espaço dedicado à Filosofia. Eu queria comprar tudo, mas não me interessei por nada em especial naquele momento. Decidimos tomar um café. Meu pai com uns dois livros embaixo do braço e minha nova prima? ela tinha um bocado de livros nas mãos. Ao irmos embora, meu pai perguntou se eu conhecia a história do livro e respondi que havia ouvido falar, mais pela série de televisão e sua temática, do que pela autora ou algo mais. “Vou comprar para você”. Ao ouvir suas palavras, confesso que fiquei meio confusa, porque não queria ler o livro, tenho evitado certos assuntos pesados em minha vida, especialmente os que envolvem a violência infringida às mulheres. Por outro lado, fiquei feliz, depois de 10 anos, meu pai me dedicou um livro: “Para Carol, com carinho, sem terror. Beijos do pai. 29/06/2018. Recife”.

Comecei a ler o livro na noite do dia 30 ao voltar para casa após ter me despedido de meu pai e de uma parte de minha família que não conhecia.

O livro em sua contracapa destaca algumas recomendações: “O conto de aia é ao mesmo tempo um exercício insuperável em ficção científica e uma história moral de significado profundo” ou “O arrepiante romance de Atwood tornou-se mais vital do que nunca”, ou ainda “Ilumina brilhantemente algumas das mais obscuras ligações entre política e sexo” e por fim, “Poderoso, admirável”. Eu diria: atual e constrangedor. E por que escolho estas palavras? Porque dentre tantas, estas remetem mais ao nosso mundo, ao nosso cotidiano e nossas fragilidades.

Mas, vamos ao livro. A história se passa na República de Gilead (século XX e XXI) onde uma nova ordem social prevalece. Algo como castas são criadas e as mulheres são usadas, dentre outras coisas, para reprodução. Todas as banalidades, futilidades e frivolidades são banidas e a partir de então ou você é saudável para procriar ou será relegada a outras funções que satisfaçam os Comandantes (ou achavam que seria diferente?).

Um novo mundo estéril, mortes e deformações surgidas devido ao vazamento de lixo nuclear e doenças sexualmente transmissíveis. Este é o cenário apocalíptico da escritora canadense Margaret Atwood.

As mulheres que são escolhidas para serem reprodutoras (não como barrigas de aluguel ou para fertilização em laboratório, são violadas por quantos Comandantes sejam necessários até que engravidem), são chamadas de Aias e se vestem de vermelho. Usam uma espécie de chapéu branco que as impede de ter uma boa visão sobre tudo e todos. Na primeira parte do livro, a autora descreve e detalha as divisões em castas, as roupas que cada um usa e as funções a serem exercidas, o que nos traz, na leitura, uma sensação de opressão e de agonia.

A mulher é o foco do romance. E independente da casta a qual está submetida, é uma mulher submissa. Oprimida.

Durante a leitura do livro eu grudei aqueles papeis coloridos em algumas passagens. Na verdade destaquei sete passagens e pretendo relê-las e escrever sobre o que senti nesses e em outros momentos do livro. O primeiro destaque dado na narrativa foi com um post-it rosa, na página 36, capítulo cinco intitulado Compras:

Agora andamos pela mesma rua, aos pares de vermelho, e homem nenhum grita obscenidades para nós, fala conosco, toca em nós. Ninguém assobia.

Atwood nos mostra o lado bom do novo mundo onde as mulheres são respeitadas. Ser uma Aia, que de tamanho valor tem, é ser reverenciada por onde passa. Mas, tal reverência ocorre apenas porque seu ventre é fértil. Você não é mais um pedaço de carne, não como antes. Sem assobios. Foi assim que me chegou essa primeira leitura e um questionamento: mas, a que preço?

O segundo post-it, que é laranja só para matar a curiosidade de vocês, será o mote para a próxima reflexão, em breve. Após sentir mais as palavras, dormir, sonhar ou não, acordar e sentir novamente como a leitura mexeu comigo. Preciso digerir o que acabei de ler hoje, dia 11/07/2018.

Desculpem a simplicidade nas palavras e no relato geral da trama, mas a intenção é ser breve e ao mesmo tempo deixar um fio de curiosidade para prováveis futuras leitoras. Sim, estou falando com as mulheres. Leiam o livro antes de ver a série The Handmaid’s Tale. Se possível, nem vejam a série, o livro basta.

Carolina Cavalcanti Bezerra
Namorinho de Sofá

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