sexta-feira, 20 de abril de 2018

Merlí: um frescor entre as produções da Netflix

Pronto! Não foi bem uma maratona, mas consegui encerrar hoje o último capítulo das três temporadas da série Merlí, produção catalã da Netflix. Se você nunca se interessou em assisti-la, ou mesmo nunca a visualizou em sua grade de streaming, vou tentar apontar alguns pontos positivos e quem sabe, você dará uma chance ao professor de filosofia Merlí Bergeron e seus peripatéticos. 

A história é simples. Um professor de Filosofia desempregado é chamado como substituto em uma escola de ensino público e tenta, a partir de métodos pouco convencionais, atrair seus alunos para o mundo filosófico. De forma atual, falando com jovens estudantes do ensino médio espanhol, de Platão, Aristóteles e Nietzsche, até Judith Butler, todos os filósofos lembrados e seus pensamentos são trazidos para a atualidade espanhola. 

A primeira temporada, em 2015, apresentou treze episódios. O mesmo número da segunda temporada, no ano seguinte. A temporada final, em 2017, contou com catorze episódios, sendo que o último não deixa dúvidas do seu término.

Merlí é apresentado como um professor seguro de seu conhecimento, de sua atuação como professor (é daqueles prediletos, sabe?!) e de sua capacidade em atrair os alunos, não só para si, mas também para o aprendizado da Filosofia. Ele fala a mesma língua dos jovens e mesmo não querendo, envolve-se em seus conflitos juvenis e tenta, a partir dos pensamentos de Kant, Freud, Boécio, Schopenhauer, Epicuro, entre outros, ajudar seus peripatéticos.

Merlí não quer envelhecer, assim como a Filosofia nunca envelhece. Cada filósofo pensa seu tempo, mas todos os pensamentos que ainda nos influenciam, não envelheceram. São tão atuais quanto "penso, logo existo" (Descartes), e é o que o professor tenta provar a cada dia de aula. Discuti-se sobre drogas, gravidez na adolescência, homossexualidade, experimentações sexuais, suicídio. Tudo! Não faltam as discussões políticas (como a separação da Catalunha) ou sobre preconceito, além das disputas típicas de poder entre professores (quem é o mais adorado pelos alunos, por exemplo). 

O elenco é muito bom e "deixa no chinelo" qualquer série infanto juvenil que você possa ter assistido. Isso porque discute-se a Educação, aprende-se sobre Filosofia (de um jeito que muito professor universitário não consegue fazer) e sobre a vida. E ainda, alguns episódios tem gratas surpresas, mas não darei nenhum spoiler, não hoje.

Para quem não sabe nada sobre Filosofia, esta é uma boa oportunidade. Não somente pelo aprendizado, básico e simplista claro, mas para não sair por ai falando frases do tipo "a filosofia da empresa" ou "a minha filosofia de vida", como se a não-ciência Filosofia se resumisse a tão pouco. Também é uma ótima oportunidade, nos tempos que vivemos em terras tupiniquins, para rever e refletir sobre a exclusão da Filosofia (assim como da Sociologia e das Artes) do currículo escolar. 

A série Merlí ajuda na reflexão sobre estes e outros assuntos, é muito atual não só para o cotidiano espanhol, mas para o nosso também. Discute-se a escola pública, a valorização do professor, a importância de currículos alternativos e muito mais. Mas, caso você não se interesse por nada disso, tem ainda as belas atuações, o roteiro comprometido e engraçado em determinados momentos ou um imperativo categórico para te tirar o juízo. Ah, tem também a Espanha. Bela! 

Para quem é da época em que as séries para jovens não traziam reflexão sobre nada a não ser roupas, carros, namorados, Merlí é um frescor para as mentes que não se cansam do conhecimento. 

Bom....mas, apagando tudo que foi dito anteriormente...é uma ótima série, independente do que você possa desejar dela. Um bela série e ponto final. Recomendo de olhos fechados.

Fica a dica!
Carol Cavalcanti