Com o início da pandemia e as demissões aumentando na Rede Globo, um cargo que com certeza ganhou vez na emissora foi o de editor de imagens. Com tanta reprise no ar, a grade de novelas da emissora mais parece um Vale a Pena Ver de Novo ou o próprio canal Viva em si. E, para quem conhece um pouco essa arte de editar e tem um olhar mais observador, percebe que a edições dizem muito do que será da novela em termos de duração e até mesmo quais assuntos devem ter mais destaque na nova roupagem.
Venho percebendo o trabalho árduo de edição com a novela Laços de Família, que foi exibida pela primeira vez em 2000 e foi escrita por Manoel Carlos (o escritor das Helenas). Seus personagens principais são: Vera Fischer, Tony Ramos, Carolina Dieckmann, Reynaldo Gianecchini, Marieta Severo, José Mayer e Deborah Secco.
O enredo - super resumindo, claro - conta a história de uma mulher mais velha (Fischer/Helena) que se apaixona por um galalau de vinte e poucos anos (Gianecchini/Edu) e que disputará esse amor com a filha mimada (Dieckman/Camila). No meio de tudo isso tem uma tia intrometida (Severo/Alma), um possível amor maduro (Ramos/Miguel), uma ninfeta menor de idade (Secco/Iris) claramente inspirada em Lolita (1955, Vladimir Nabokov) só que na versão rural e o garanhão-bruto-pegador (Mayer/Pedro).
É sobre "O Pedro" e a edição de suas aparições que quero falar. Se você ainda está em home office, mesmo que parcialmente como eu e pode organizar seu tempo de trabalho, assista à nova novela "Helena" (2020) das tardes da Rede Globo e me diga se não faz, nem que seja um tiquinho de sentido, o que estou pensando.
A primeira coisa que você vai perceber pela edição é que a novela veio para ficar por um bom tempo (a narrativa é bem linear entre os capítulos), mesmo que tudo que a gente assista seja surreal ao nosso olhar atual (só tem rico ou muito rico, não tem pobre; os celulares são enormes; as pessoas tem telefone fixo; silicone, beição e dentes platinados não fazem parte da moda dos anos 2000, tem uma personagem que usa aquele elástico para segurar os óculos; as pessoas não usam máscara ou álcool em gel etc. etc. etc.).
Porém, o que mais me impressionou desde sua reestreia é como o papel do cowboy tupiniquim do José Mayer tem destaque, especialmente as cenas em que ele assedia moral e sexualmente a veterinária Cíntia (Helena Ranaldi) ou agride fisicamente a apaixonada-enjoada-pentelha Íris. A cena em que ele deixa a garota de calcinhas em seu colo e dá-lhe umas palmadas é imoral!
Tendo a oportunidade de assistir a vários capítulos percebi que essa exposição continua com a mesma intensidade com o passar dos capítulos. E, rapidamente me veio um insight....a Rede Globo está preparando o caminho para o retorno do ator José Mayer, que está afastado da firma desde 2017 por assédio a uma figurinista.
Um segundo fato, e que me incomoda mais, é que a nova edição das imagens não se preocupa com o horário que está sendo transmitida. Vejam, não é falso moralismo, mas além de você expor assuntos que envolvem relações sexuais e violência, você dá destaque a elas a partir de um personagem comprovadamente assediador. O que você está tentando dizer com isso? As pessoas pagam por seus erros, podem ser perdoadas, podem até mudar, mas o que essas imagens dizem, especialmente para às mulheres? Não sei se vocês sabem, mas na primeira exibição da novela, o Ministério da Justiça exigiu que todos os atores menores de 18 anos fossem retirados da trama por causa da exposição a "cenas com conotação sexual e imagens de violência doméstica ou urbana" (Google). Somente a filha do escritor permaneceu no elenco, após conseguir um mandado de segurança.
Fazia um tempo que vinha ensaiando escrever sobre isso, mas ontem foi meu deadline, quando lá pelas quatro e pouco da matina, no primeiro telejornal da emissora, o seu âncora, leu uma declaração oficial sobre o mais recente caso de assédio da Rede Globo, contra à atriz Dani Calabresa. Ponderando sobre a seriedade que a emissora vem tratando o caso, uma fala entre vírgulas no pronunciamento me chamou à atenção. Algo do tipo: a emissora não se pronunciou sobre o caso abertamente, com detalhes e tudo o mais, para preservar a suposta vítima e o suposto agressor durante o que ainda era uma investigação. Porém, o assediador, o sei-lá-o-quê Marcius Melhem, foi demitido da emissora que "seriamente" agradeceu seus serviços (lucro?) prestados durante os 17 anos de casa, sem citar, mencionar, o verdadeiro motivo de sua saída (manter os lucros?).
Entenderam onde quero chegar? A cultura de proteção a casos de assédio na emissora é naturalizada! Outras atrizes e mulheres parte do staff da Globo relataram abusos semelhantes e nada foi feito! Emitir notinha jurídica, colocar uma mulher à frente das supostas investigações, é muito pouco. A emissora, assim como os colegas dessas pessoas, deveriam sim ter sido mais veementes em sua indignação, como foram durante o movimento Me Too ou Não Passarão (vocês terão que pesquisar, porque senão perderemos o foco aqui) em 2019; concordo!
O que não cabe mais, além da omissão, é a perpetuação de um erro de tamanha magnitude como se fosse algo...putz...normal. As telenovelas tem que ter sim um papel social com às mulheres, com os negros, com os LGTQIA+ e com todas as minorias! Veículos de comunicação são formadores de opinião e devem agir propositivamente.
Recentemente assisti ao filme Atleta A, um documentário da Netflix sobre o maior escândalo sexual nos esportes dos EUA. O filme mostra que grandes corporações fecham os olhos para a violência moral e sexual dentro de suas organizações para não sujar sua imagem e seus interesses; lucro e vitórias. É o que a Rede Globo tem feito ao não falar e ao naturalizar o assédio na personificação do pseudo-galã Pedro, de Laços de Família. Aliás, essa personagem é a própria personificação do que foi dito sobre o ator José Mayer.
Precisamos refletir mais sobre o assunto e os acontecimentos, sim, sempre; para que outras mulheres saibam que podem falar e que terão em nós o apoio que merecem.
O BBB 20, Zélia Duncan e Eu
O comentário da minha colega talvez estivesse se referindo a minha condição sexual ou estado civil. Sei que ela não quis me ofender, mas isso ficou martelando na minha cabeça (!) até agora, me provocando, incomodando; e descobri por que. Porque nós mulheres fomos educadas a pensar, a sentir e a reproduzir os discursos construídos pelo mundo masculino e machista. Mulheres têm que casar e ter filhos, mulheres que têm muitos parceiros são putas. Assim muitas foram educadas na época da minha avó e continuam a ser educadas nos dias atuais (pelas famílias, novelas, noticiários, propagandas e etc.). De certo, não nego, fiquei muito aliviada quando cheguei à conclusão de que são apenas discursos reproduzindo esse tipo de "educação".
Na verdade, mesmo, o que me incomodou é saber que esse tipo de pensamento não somente é retrógrado, apesar de aceitável porque cada um tem direito ao seu próprio entendimento das coisas, mas também negativo para às mulheres que lutaram (e lutam!) tanto para que nós hoje pudêssemos escolher com quem, como, quando, quantas vezes saímos ou transamos com uma pessoa. Essa bobagenzinha me incomodou...somente.
Digo aqui. Mulheres não pensam com cabeça de homem porque pensam a partir de suas próprias vontades e desejos, que espero, nunca mais sejam reprimidos ou rotulados ou mesmo cerceados. Ao final a conversa terminou bem, percebemos que mesmo com as diferenças de pensamento, nos unimos nas necessidades, sejam quais forem. Sou respeitada pelos meus pensamentos, respeito os seus e isso já é uma grande coisa.
Como diz um amigo, aniversariante do dia, "quem é que paga tuas contas? Não é você! Então, você faz o que bem quiser da sua vida e ninguém tem nada com isso!". E a outra aniversariante, feminista raiz, que usa blusinha temática com os dizeres "meu corpo não é um convite", são os donos dos discursos e ações contemporâneas que desejamos ouvir nos dias de hoje. Seguimos na luta, nem que seja para combater, inicialmente, apenas os discursos enraizados na sociedade.
Vira e mexe tentam nos explicar as asneiras que alguns presidentes aprontam por ai. Buscam muitas vezes explicação no emocional, no psicológico. Quantos de vocês já não leram que o problema de presidente tal é que ele ainda está ou não saiu da fase oral ou da anal. Tentam nos convencer que o problema de alguns líderes tem relação direta com o seu (sub) desenvolvimento psicossexual. Puxem na memória. Quando nossos representantes resolvem falar sobre sexo e em especial sobre homossexualidade, os especialistas logo dizem que "fulano de tal não saiu da fase anal". Mesma frase usada quando presidentes ficam brincando de apontar armas de guerra uns para os outros. "A minha é maior" "a minha é melhor!" Nos induzem logo a pensar em frustração sexual ou em algum problema mal resolvido na infância. Mas, você sabe quais são e o que significam os estágios de desenvolvimento psicossexual detalhados por Sigmund Freud? Não!
Vou dar uma geral para vocês, porque tenho outra teoria a apresentar sobre o estágio de desenvolvimento do tesão dos líderes mundias atuais que se refletem nas merdas ditas e feitas, mas que não mantém relação direta (penso que não...) com seus órgãos genitais ou com suas necessidades fisiológicas. Devo admitir, entretanto, que estudos científicos devem ser realizados com urgência, pois nos ajudariam a entender muitas coisas. (risos)
Vamos lá! As fases foram assim divididas por Freud: 1) oral - do nascimento até os 12/18 meses de vida, está ligada à alimentação; Freud acredita que se à criança fica muito dependente da mãe em especial, pois e ela que a alimenta, o bebê pode ter uma tendência maior a fumar ou beijar, por exemplo, também é nessa fase que se forma o ego da criança; 2) anal - até os 3 anos de idade é a fase de maturidade fisiológica da criança onde aprende a controlar a urina e fezes; consequentemente seu interesse se volta para o ânus (que ela não sabe ainda, mas é uma região erógena); há aqui o reforço do superego; 3) fálica - vai até os 6 anos de idade e meninos e meninas começam a descobrir suas zonas erógenas a partir do toque (masturbação); 4) latência - segue até à puberdade e é uma fase mais calma no descobrir sexual, o que não quer dizer que não haja desejo e 5) genital - segue até a fase adulta e segundo Freud é o estágio final do desenvolvimento libidinal e as relações íntimas se estabelecem.
Na minha nova teoria, os atuais líderes mundiais, especialmente os mais controversos, deveriam ser estudados a partir dos seus cabelos. Cabelos? É, cabelos! Vejam se não tenho razão.
O primeiro, que é o mais falastrão de todos mesmo não tendo nenhuma arma de destruição em massa para botar medo na galera do mundo, diz que corta o cabelo toda (!) semana, um corte milimétrico de "reco" do exército que lembra vocês sabem quem. No mínimo uma obsessão ou um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. O que acham?
O segundo, para nós, o homem mais poderoso do mundo só porque lidera a nação mais rica, tem arma, tem drone, tem foguete, exército e bomba atômica. Também tem uma boca do tamanho do mundo e conhecimento de menos. E a cabeleira? Dizem que é peruca daquelas que grudam com cola e vive sempre aprumada no laquê. Isso quando não bate um pé de vento e puff....embaralha tudo.
O de olhinho puxado, o mais novo de todos, é conhecido como ditador. Tem um exército bem treinado, condicionado ao marchar, muitas armas, bomba atômica e adora ficar apontando míssil para seus inimigos. O que dizer desse corte? Um moderno tradicional estilo forças armadas? Vive ameaçando o número dois, já apontou foguete para as bandas de lá, mas também já apertaram as mãos numa tentativa de....sei lá do quê?!
O quarto vive descabelando seu país. Fala enrolada, tem cara de roupa amassada, assim como seu cabelo. É conservador, radical na medida que lhe é permitido, pois seu povo não responde apenas aos seus arroubos. Tem arma, tem exército, tem bomba, tem muita história vitoriosa, mas ainda não sabe se sai ou se fica. Um desgrenhado.
E, por fim, aquele último ali na ponta. Não conseguimos ver cabelos - seria careca? -, o que para sua religião reforça muito o seu poder. Tem vários adjetivos contra si: ditador, sanguinário, torturador, opressor, entre outros. Tem arma, foguete, bomba e homens-bombas. Não mede esforços para manter seu povo oprimido e parte disso é feito com o uso da força. Os possíveis cabelos cobertos pelo turbante imponente representam muita coisa, mesmo que para nós apenas a curiosidade de saber o que há por baixo dele.
Percebam a lógica da minha teoria, que tem como personificação representativa a parte superior do crânio (e não o que deveria haver dentro deles): o primeiro ama o segundo, mas o segundo não tá nem ai; o segundo já apertou a mão do terceiro, mas era tudo fachada; o terceiro defende o quinto e vice-versa pois são da mesma laia; o quarto não tá nem ai para o primeiro, mas não se atreve a brigar com o segundo e nunca atira a primeira pedra no terceiro ou no quinto.
Poderíamos tentar construir relações políticas e bélicas (sexuais? capilares?) entre essas criaturas um dia inteiro. O fato mesmo é que além da "extravagância" de seus cabelos, todos hoje comandam suas nações e povos com pulso forte e radicalismo, seja nas ações ou nas falas. E isso é mais preocupante que o mal gosto para cortes e penteados.
Ontem, o quinto foi atacado pelo segundo e prometeu VINGANÇA (!!). O primeiro, que também é o menos inteligente (estou sendo bem educada), num acerto inimaginável preferiu não se manifestar antes de trocar umas ideias com pessoas supostamente mais aptas. O quarto pediu calma ao se descabelar ainda mais com a possibilidade de uma nova guerra, mais perto de si do que do segundo. O terceiro apoiou o quinto, pois estão ainda na fase anal... ops, desculpa!....porque gostam de apontar suas armas para o segundo.
Então, o que acham? Deveríamos ou não estudar o hairstyle dessas criaturas que decidem sobre nossa existência? Ai Freud! Será que dá para alavancar uma teoria baseada na cabeleira desse povo? A sua sobre ego e superego é tão convincente...mas, não pode ser tudo sexual, pô! Ou pode?!
Por fim. Conselho: tenhamos fé e saibamos escolher onde cortar nossa cabeleira, isso pode mudar nossa participação no mundo.
Um dia qualquer de férias
(por Carol Cavalcanti em 10/01/2018)
São 05h47 e algo sonoro me desperta - uma mensagem chega em meu celular. Não quero me levantar, mas me lembro de toda organização para o dia de hoje. Como ainda estou de férias preciso colocar em ordem algumas coisas, ir doar sangue – algo que não faço desde 2016 -; levar aquele vestido guardado para lavar usado uma única vez e que agora tem uma mancha que, talvez, já estivesse ali antes, mas nunca havia prestado atenção; e passar no trabalho para ver como as coisas estão mesmo de férias.
Às 06h acabo de ler todas as mensagens, postagens, curtidas e xeretado na vida de toda a rede social disponível. Sonolenta me levanto, abro a porta da frente para meus três gatos e, preguiçosamente, me arrasto até o local onde fica a comida. Verifico que apenas água precisa ser acrescentada. “Esses gatinhos estão condicionados a comer sempre no mesmo horário, querem comida nova, mas precisam...”, reflito em voz alta. Retorno ao quarto com vontade de me deitar, lembro da minha curta programação de atividades para hoje, tomo coragem e vou até a caixa higiênica dos felinos e ao que sobrou do jardim e recolho suas necessidades fisiológicas; hoje é o dia do carro de lixo passar. Tomo café sem açúcar, pão feito por mim e uma fatia de mamão, que depois é lambida e devorada em pedaços por um deles.
7h15. Já estou no hemocentro e a fila de doadores é razoável, quase desisto, mas logo sou chamada e me adianto à atendente - “nada mudou moça, endereço e telefone são os mesmos”. Ela pergunta se a doação é voluntária ou para alguém específico e respondo com os olhos arregalados: “voluntária!”. As últimas duas vezes que doei sangue foram para pessoas que necessitavam já-hoje-agora! Elas morreram meses depois, fiquei meio traumatizada.
Furaram meu dedo, aumentei 1,8 kg e peguei meu último resultado, aquele de 2016; nada de sífilis, hepatites ou HIV. O penúltimo passo era aferir a pressão e responder a um questionário sem sentido. “A sua pressão é sempre baixa?”. “Sim, sempre, 11, 10 por 7... ela ainda está acordando”, respondi achando que a piada era boa. “Ela está 9 por 6”, não poderá doar”. “Já passou mal alguma vez?”. “Não, não”, respondi tensa com a possibilidade de minha programação ser destruída. “Tome um lanche e em dez minutos se ela estiver em 10 tudo bem, fará a doação. Vamos adiantar seu questionário”. A coitada não teve a chance de fazer mais do que três perguntas, as quais respondi, e encerrei o questionário com um “não para tudo e sim para o que deve ser sim”. Ela riu e mandou-me para a cantina. Doze minutos depois, pressão em 10.
Vamos ao que interessa, o mote das palavras no papel em branco, o acontecimento que me motivou a escrever. Sento-me em frente à penúltima enfermeira daquela manhã, a que etiqueta os tubinhos com códigos de barra, entreguei meu documento, ela repetiu meu nome e eu concordei “Sim, sim, sou eu”. Do nada ela diz “Não consigo mais ler, minha vista embaça, nem a ‘palavra’ que gosto de ler todo dia consigo enxergar bem. Ler a bíblia é muito bom, não acha?”, olhando fixamente para mim. “Não é?”, respondo, inocentemente dando liberdade ao prosseguimento da ladainha. Minha boa educação, o cedo da hora, o estresse da pressão que não subia, fez-me silenciar e ouvir até o fim, até uma cadeira de doação ser liberada. “Vá, vá!”, ela diz, com um sorriso de quem converteu mais uma, “tem uma cadeira livre logo ali”. Sentei-me atordoada com o açucarado do suco de manga, coloquei a bolsa onde me fora indicado e repousei Amós Oz[i] sobre meu colo. Somente neste instante me dou conta, “Oh!”, no olhar da terceira enfermeira e o papo da vista embaçada... Judas, o apóstolo iscariote[ii], deitado sobre minhas pernas. Virei o livro com seu título de cabeça para baixo.
Quem sou eu, que apenas tenho fé na humanidade, para contestar a crença de um crente em condenar Judas por seus supostos atos? Amós Oz tem razão ao falar que as verdades (fé) das pessoas são inquebráveis. Eu, melancólica ao final da metade de minha manhã, desisto de deixar o vestido na tinturaria.
Escrevi este texto em janeiro de 2018, tava guardadinho, junto com as anotações da minha prima Luciana Darce para melhoria do texto, inclusive sugerindo a mudança do título, inicialmente 'Vestido Manchado'.
Confraternizações, o que nos acrescentam?
Quando ficamos mais velhos e até a confraternização está fazendo aniversário de existência, os encontros ficam mais interessantes. Continuamos bebendo litros e litros. Mas, evitando misturar os drinks falamos sobre todo tipo de assunto. Distribuímos presentes, mimos, fazemos discursos, embargamos a voz, alguns seguram as lágrimas enquanto outros choram sem vergonha. Desabafam.
As confraternizações são assim, especialmente entre amigos. A intimidade conquistada por muitos anos de amizade, junto com a bebida no sangue, te encorajam a declamar poesias escritas de próprio punho, discursos políticos nunca faltam, todo mundo vira um pouco psicólogo (mesmo sem formação) e são muitas, muitas as fotografias tiradas. Atualmente, são muitas selfies e registros nas redes sociais. Nos expomos completamente.
Somos mais alegres e perdemos a seriedade do ambiente de trabalho ou da sala de aula após a segunda cerveja. Falamos alto, falamos todos ao mesmo tempo, ninguém se entende e fica difícil organizar os assuntos. Muita euforia e empolgação, todos precisam falar. As "confras" despertam nas pessoas a coragem que não sabiam que tinham.
A necessidade de falar, algumas vezes, ultrapassa à intimidade das relações estabelecidas. Claro que potencializado pelos drinks em excesso. Tem gente que rouba selinho na boca e diz que foi sem querer, achamos que conhecemos as pessoas profundamente e então julgamos e damos conselhos "a torto e a direito", questionamos o sim e o não das coisas ou ainda entendemos errado o que a outra pessoa quis dizer. Tudo é uma questão de prisma, de olhar... ou de ouvidos. Ouvimos o que não nos agrada e respondemos diretamente, encerrando o assunto. Evitamos conflitos, discussões e brigas.
As confraternizações, no final das contas, não devem ser levadas tão a sério. Ou melhor, o que se diz e como se age, não devem ser motivo de separação. Principalmente porque estamos enebriados, embriagados e emotivos.
Seja troca de energia ou encontros ao acaso, somos nós quem sabemos o quanto o ato de confraternizar pode ser essencial à humanidade em um mundo tão cheio de preconceitos.
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