Este Poema (em maiúsculo mesmo) em "Riscos". Do amigo e ótimo escritor R.S.
Noturnamente:
Quero pela manhã
(numa medida contida)
sentir outro acorde, sem suprimir
o que não pode da própria manhã
evitar o corte, o risco, a morte.
Reportando íntegra a vida
àquela alma infante
de Schönberg
Debussy
a Chopin.
Sem o suplício de fremir,
a sorte do compasso envolve; o fosso
do intervalo revela: Ser a impressão
que refaz o movimento incerto
da sorte que me espera.
(Sem saber o que sela
nas manhãs de silêncio
que relembro de mim,
ao ouvir Debussy)
Da parte desdita
do corpo que desvendo,
transfigurar a noite
na linha do tempo
amanhecendo na partitura
a instante palavra querendo,
já sendo em parte
o que se pede não sendo.
Montanhas-russas
de somente estranheza,
prepara o gozo de agouro
em serpes; teu grito em nonários
repete: experimenta o dentro
o fora e o breve!
Prolongada a dor de surda
beleza, fustigam-se tímpanos
címbalos e saltérios:
São manada de cornos
aboiando o mistério e plumagem
de anjos zurzindo o ocaso.
São silfos e trons de apito
e pancada; são precipícios venéreos
de volumes empedernidos.
Tuba canora ou gaita agreste,
de novo, agora, pra sempre
revele e, cuidadosamente – a nódoa,
o traço, a letra –, encerre
na curva da estranha melodia
de Schömberg.
[R.S.]
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