Ao fuçar
nos meus livros absolutamente desordenados encontrei o livro/cordel “A Vida de
Buda em Versos”, do escritor Palmeira Guimarães, datado de 1977, e em minhas
mãos desde 1987.
Procurei
na memória um momento quando na adolescência tive o prazer de ver Palmeira
Guimarães num bar underground na
cidade de Campina Grande. Na ocasião estava na comemoração do aniversário de
uma amiga (eu tinha uns 14 ou 15 anos).
Com esta
memória lembrei-me da minha mãe dizendo que ele era primo da minha avó
(nunca esqueci), sobrinho legítimo de meu bisavô Antônio Jacinto da Costa. Reconheci aquele homem que sentado em almofadas numa mesa
estilo japonês junto com uma amiga tomando vinho e pensei: foi ele que compôs
“Último Pau de Arara”, que boa parte das pessoas pensa que é de Luiz Gonzaga. Tive
sorte. Nunca mais o vi depois daquele dia.
Em
pesquisa on-line encontrei algumas
referências a Palmeira Guimarães. A primeira, cita a autoria da música Último
Pau de Arara, a segunda, cita três livros de sua autoria, e a terceira, uma
crônica publicada no Correio da Paraíba em 2007.
A composição da música último Pau-De-Arara é de
Venâncio, Corumbá (dois dos mais conhecidos compositores e cantores da
tradicional música sertaneja) e José Palmeira Guimarães, este último mais
conhecido por seus amigos por Palmeirinha e, ainda hoje, desconhecido do grande
público. Foi gravada no LP do Fagner em 1973.
Parte da poesia foi censurada, à época e, posteriormente gravada num CD do
Coral da Petrobrás, no ano 1996, sob a regência do Padre Pedro Ferreira da
Costa, em Natal (RN). Nesta versão, foi colocada a parte censurada, conforme
abaixo:
ÚLTIMO PAU-DE-ARARA - Composição: Venâncio /
Corumbá / J. Guimarães
Intérprete: Coral da PETROBRÁS – Natal – RN - CD VOZ & ALMA – 1996
“NÃO ADIANTA IR EMBORA,
PRA SÃO PAULO OU GUANABARA,
O PATRÃO QUE AQUI ME EXPLORA
ME ARRANCA OS OLHOS DA CARA
É O MESMO PATRÃO DE LÁ
E O DEUS DE LÁ É O DAQUI
SÓ DEIXO MEU CARIRI
NO ÚLTIMO PAU-DE-ARARA.”
Outra gravação, apresentando outra versão, segundo
o poeta, cantor e compositor paraibano, um legítimo seguidor de Jacson do
Pandeiro, Biliu de Campina; a música de Venâncio e Corumbá e letra original de
JOSÉ PALMEIRA GUIMARÃES, foi gravada no CD - Forró Pé & Cabeça de Serra –
2005, do próprio Biliu de Campina, cuja capa encabeça este artigo. http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/2008/11/pau-de-arara- msica.html
Recortes da crônica publicada no Jornal Correio da Paraíba em 03 de
abril de 2007.
É isto mesmo! O
título foi copiado do livro de crônicas “Deliciosos”, premiado pela Academia
Paraibana de Letras, com justiça.
[...]
RaimundoYasbeck Asfora, prefaciando o livro “Habitante do Amanha”, descreve o
poeta assim: “um cara baixinho – mais baixinho do que magro - que sorria triste
e trazia um enorme medalhão de ouro com a efígie de Jesus sob a camisa
desbotada. Um jovem poeta-violeiro, considerado um fenômeno”. Opinião
ratificada pela crítica quando lançou “A vida de Buda em versos”. Uma pérola do
cordel, saudado como um livro magnífico, comovente e profundo. Então, já era
monge budista, este caboclo interplanetário.
[...] Li o livro “Deixe o coração voar”,
uma coletânea de versos como o autor pediu: Sentindo. Vivenciando o clima de
amor e liberdade, almejando uma sociedade e mundo mais justo e mais contente.
Li em Valencia, Espanha. Madre mia! Da Europa acompanho a preocupação global
com o meio ambiente, vivencio o problema da seca em terras espanholas, atos de
terrorismo. Os homens continuam violentos, injustos e cada vez mais
tristes.
Você foi o fio terra da crônica de Sitônio. É certo que o amor crístico, a
verdade búdica da Lei da Impermanência foram esquecidas ou nunca aprendidas. As
guerras continuam gerando toda espécie de mazelas. Os desastres ecológicos se
amiúdam. Como segurar a lágrima que desce suave ao escutar em terra distante:
“Só deixo o meu Cariri / no último pau-de-arara”? Penso no Brasil... Riqueza pura!!!
E, no entanto, à mercê de governantes irresponsáveis. Mais do que nunca é
imperioso lutar e acreditar. Acreditar para poder lutar.
José Palmeira Guimarães,
precisamente trinta e sete anos depois (estamos no ano da graça de 2007, século
XXI) eu respondo à convocação feita por você no poema “Manifesto”, publicado no
Rio de Janeiro em 1970.
“Você,
ator, cantor, pintor, poeta, músico, irmão,
Venha juntar ao meu o seu
recado, venha me dar a mão.
Vamos fazer dessa divina
herança, um grito de
esperança. Venha me dar a
mão!”
No blog Namorinho de Sofá na Aba Leitura Predileta consta
o início e o final do livro “A Vida de Buda em Versos”.
Fica aqui nossa homenagem a
Palmeira Guimarães.
Lala Medeiros.