domingo, 7 de junho de 2020

Conheçam à Cinemateca! Lutem por ela!

Retirado do site da Cinemateca
Já faz um tempinho que não escrevo para Enxertos, com essa pandemia enlouquecendo  fica até difícil falar de algo que não traga certa tristeza, desespero, até certo enlouquecimento em dias de confinamento, ou distanciamento social, como queiram. Por isso não tenho tido inspiração para falar de arte, especialmente porque a mesma vem sofrendo demais com tudo isso. Como este é um blog despretensioso, que não ganha dinheiro e gosta mesmo é de compartilhar alguns momentos de inspiração, não nos forçamos a escrever quando não surge algo assim...que mexa conosco. E este é o momento, mexeu.

Já são dois dias buscando fotos em arquivo, mas não consegui achar os registros da última vez que estive na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. É sobre ela que gostaria de falar. A instituição que desde 1946 - 74 anos a completar em outubro - é responsável pela guarda do acervo audiovisual nacional, hoje não consegue pagar sua conta de luz. Instituição que não é um simples depósito de rolos de filmes, mas um local que restaura obras do nosso cinema brasileiro e devolve ao púbico sua produção em forma de acervo permanente para consulta, pesquisas e visitação. Em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDES vinha realizando pequenos festivais de filme, como os recentes Cinema Sueco Contemporâneo, Maratona da Madrugada: Trilogia do Zé do Caixão, Sessão  ABC: Amantes do Cinema Brasileiro, entre outros. Tudo gratuito! Sessões lotadas! Local que abriga uma biblioteca riquíssima e espaço para sessões de cinema, têm exposições permanentes de seus acervos; todavia-entretanto-mas...

...infelizmente o Governo Federal não vem repassando os valores acordados com a instituição que vem a duras penas sobrevivendo, creio eu que pelo amor de seus funcionários e até antes da pandemia, de seus frequentadores. Desde abril os cerca de 150 funcionários não recebem salário (!!), as contas básicas vem se acumulando e os 245 mil rolos de filme, 1 milhão de documentos que incluem livros, roteiros, fotografias, material de propaganda entre outros podem desaparecer. Sem acondicionamento adequado, cuidados específicos, temperatura correta, tudo pode se perder. Vale lembrar que o último incêndio que acometeu à Cinemateca aconteceu em 2016 e rolos de filme são como querosene no lampião, basta riscar um fósforo.

Andei pesquisando e descobri que o orçamento para a Cinemateca em 2020 ficou em 12 milhões. Ou seja, 1 milhão de reais por mês para manter funcionários, as tais contas básicas (só a conta de luz deve ser algo exorbitante!), provavelmente seguro do imóvel que é tombado pelo Patrimônio Histórico, outra continha aqui outra acolá.... Descobri também que ainda nada foi repassado e por isso recentemente vimos manifestações em frente ao prédio pedindo mais respeito com à História do Brasil (e talvez um "por favor, não nos mandem a ex-namoradinha").

Google imagens
A instituição em si, sua estrutura, já é bela só de olhar. A visitação por espaços tão marcantes, imponentes com ambientes arejados cheios de luz, para quem ama a sétima arte, é como um passeio no Paraíso para os católicos; com passagem de volta, claro. Mas, a Cinemateca está mais próxima da extinção como nunca antes vimos; e não será o Paraíso seu destino final. 

Mais uma parte de nossa História vem sendo aniquilada. E sendo totalmente pessimista, porque é o sentimento que temos enquanto sociedade atualmente, sugiro que quando puderem, visitem à Cinemateca. Participem de suas ações. Não percam a oportunidade de conhecer esse local mágico, ajudem se puder, abracem à causa. Conheçam à Cinemateca! Lutem por ela!

Nas redes sociais:



Fica a dica.
Carol Cavalcanti

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O que de verdade há por trás do especial 'A Primeira Tentação de Cristo' do Porta dos Fundos

Vou dar minha cara a tapa aqui! Mas, digo logo que a culpa é de vocês que nas redes sociais e nas mídias ficam falando sobre o assunto. Eu, particularmente, nem gosto desse tipo de humor, apesar de reconhecer que é um gênero que atrai o público e têm características próprias no Brasil.

Bom. Depois de tanto blábláblá e de ouvir críticas de dois colegas de trabalho sobre o especial de Natal do Porta dos Fundos, A Primeira Tentação de Cristo - mesmo sem terem qualquer conhecimento sobre o programa -, parei ontem para assistir. 

Dei algumas risadas, achei graça de algumas personagens, gostei de suas caracterizações humorísticas e também de suas reflexões sociais. Tem negro sendo atacado por sua cor, tem prostitua e ladra, tem corno e adúltera, Buda, Shiva e Jah engraçadíssimos fazem uma DR com Jesus e tem Deus...sim, Deus! Deus é um boçal que afirma ter concebido Jesus pelo método convencional, que arranca o braço de José duas vezes só para provar seu poder, que faz o que quer sem pensar no outro, só em si, e é a personificação do que somos hoje: intolerantes ao que é contrário as "nossas" supostas "ideologias". Se eu fosse católica-apostólica-romana ou uma ortodoxa-russa ficaria p... da vida mesmo com a representação de Deus, e não de Jesus. 

A polêmica toda gerada pelo especial está no fato de Jesus ter experienciado (no programa da Netflix) uma relação homoafetiva durante os 40 dias vagando pelo deserto. Ao retornar e tendo supostamente "saído do armário", Jesus não tem certeza se quer assumir sua missão como filho de Deus. Surgem vários conflitos, Jesus está confuso, descobre que José não é seu pai e que agora tem super poderes. 

Então. Como não achei nada demais no programa, o que me fez refletir e falar sobre o assunto, o mote, além do blábláblá midiático claro!, é a falta de consciência das pessoas - ou simples alienação, não sei - sobre o que pode e o que não pode, o que ou não atacar, desrespeitar ou botar fogo. Pessoal! No episódio há manifestação de ódio racial! Pode? Roubar e ser adúltero, pode? Enganar também pode, pelo visto, porque ninguém falou nada sobre tais questões. Que nome dar a isso?

Voltando ao meu mote, a intolerância (aqui, ausência de consciência coletiva). Que diferença faz uma pessoa ser gay, se a mesma realizar suas atividades, tocar à vida normalmente e pagar impostos como todo mundo? Nenhuma! Jesus estar sendo representado (lembrem-se, é representação) pelo programa como homossexual nada mais é do que a possibilidade que temos, a partir de algo que nos incomoda, de refletirmos sobre o que vem acontecendo no mundo, à violência e as agressões ao público LGBTQ+, o racismo e os crimes de ódio em ascensão e todos os outros assuntos expostos pelo programa. Estão lá, todos os 7 pecados capitais gritando na nossa cara: soberba, avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça. Todos são evidenciados e cuspidos em nós! E o que te incomoda é Jesus ser representado como gay? Se Jesus ser representado como um homossexual te choca, mas centenas de homossexuais serem agredidos e mortos todos os anos não faz diferença, você tem um problema.

Bom. Exausta em ter que falar sobre intolerância as diferenças, mas era preciso, gosto de dizer que a arte salva, mas a mesma também serve para nos possibilitar outros olhares, especialmente ao diferente. E aceitar. Aceitar é importante. Leonardo da Vinci refletiu assim sobre a arte: "a arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível".Friedrich Nietzsche, por outro lado,  afirmou que "a arte existe para que a realidade não nos destrua". 

É isso! Reflitamos!

Fica a dica!
Carol Cavalcanti

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O Porta dos Fundos é um produtora de vídeos para a internet que tem um canal no YouTube e segundo consta, hoje, é o sexto canal de maior audiência na plataforma, no Brasil. Recentemente, recebeu o Emmy Internacional de Melhor Comédia, também sobre um especial de Natal apresentado em 2018 intitulado Se Beber Não Ceie. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Tem Arte Naïf com Val Margarida e Adriano Dias em Campina Grande (PB)

Quando menos esperamos somos surpreendidos pelo colorido das telas que expressam o autodidatismo e originalidade de seus artistas, que com linguagem própria, poesia, cor e criatividade, nos enchem os olhos de retratos do cotidiano e cores vibrantes. Estamos nos referindo à arte naïf (em francês pode significar ingênuo ou inocente), que vem conquistando mais adeptos pelo Brasil.

Campina Grande abrirá às portas da Galeria Irene Medeiros para dois artistas naif exporem cerca de 30 trabalhos inspirados na identidade negra, nos povos e culturas africanas. A temática surgiu com o planejamento de atividades em alusão ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, com o intuito de refletir sobre à constituição do povo brasileiro. A vernissage acontecerá dia 4 de dezembro a partir das 19:30 horas e todo os amantes das artes estão convidados a brindar com os artistas Val Margarida e Adriano Dias.


Val Margarida é natural de Bezerros (PE), mas mora em Campina Grande desde os anos de 1970. É professora da Universidade Estadual da Paraíba e começou a pintar em 2001. Somente em 2017 disponibilizou suas obras à apreciação do público e não parou mais! Em 2018, participou do Festival Internacional de Guarabira-FIAN, expôs na Feira de Arte de Goiás–FARGO e foi selecionada para participar do Encontro Nacional de Arte Naif do Centro-Oeste-ENANCO/2019. Apaixonada pela arte naif, a artista Val Margarida vem se destacando no Estado da Paraíba por sua originalidade e já nos presenteou com uma entrevista deliciosa, que pode ser conferida em http://namorodesofa.blogspot.com/p/blog-page.html

Adriano Dias, natural de Guarabira (PB), é referência no estilo naif. Gosta de reproduzir cenas do cotidiano nordestino e religioso, do imaginário infantil e dos festejos populares. Artista renomado já expôs em festivais como I Mostra Internacional de Arte Naif–BMC na Art Galerry em Barcelona, no 6º Mondial Art Festival Katowice na Polônia, na Mostra em Homenagem ao Cordel do Pavão Misterioso no SESC de Campina Grande entre outros.

Intitulada Da Cor do Brasil, a exposição poderá ser visitada até o dia 23 de dezembro de 2019, no Teatro Municipal Severino Cabral. A entrada é franca. 

Fica a dica!
Carol cavalcanti