sábado, 27 de janeiro de 2018

'Shalom Akhshave' e o beijo que recebestes de Judas

Já no fim de minhas férias, consigo terminar o segundo, dos quatro livros, que minha mãe deixou aqui. Um deles, A Caderneta Vermelhajá foi comentado no blog. O segundo é o livro de Amós Oz, Judas (Companhia das Letras, 2014). É dele que vamos falar um pouco. Tentar "vender a sardinha", quem sabe novos leitores para o caríssimo Oz.

A capa do livro é essa ai ao lado. A obra é The Kiss (1907) de Constantin Brancusi. Fui pesquisar, porque não sabemos de tudo, e descobri que Brancusi foi um famoso escultor romeno que morreu em 1957, e a obra O Beijo, foi sua estreia no mundo das artes. Mas, deixemos de lado, por enquanto, tais questões.

Amós Oz, nascido em 1939, é considerado atualmente o mais famoso intelectual israelense. Um pacificador em seus livros e escritos, sempre em busca da união entre judeus e palestinos, é um dos fundadores do movimento Shalom Akhshav, ou Paz Agora, que entre outras questões discute e luta por uma convivência mútua entre tais povos. 

O enredo do livro, não totalmente ficcional, narra a história de três personagens que convivem durante 4 meses em uma casa, na cidade de Jerusalém, durante o inverno. Shmuel Asch é um estudante universitário falido e desiludido, que resolve aceitar um emprego na casa de Atalaia Abravanel e Guershon Wald. Shmuel está trabalhando em sua pesquisa sobre "Jesus na visão dos judeus", com especial destaque para Judas Iscariotes, e vislumbra a possibilidade de desenvolver sua tese na suposta tranquilidade e facilidade do emprego oferecido por Atalaia, em um panfleto, nos muros da universidade. Outra pergunta que Shmuel tenta responder é a de como os judeus enxergam Judas, já que este é considerado culpado por entregar Jesus à morte; especialmente pela cultura ocidental atual. O que para muitos é a causa da estigmatização do povo judeu - Judas, um judeu, ter entregue Jesus à cruz - e a desculpa para os muitos conflitos armados naquela região poderá ser a chave, para Shmuel, à sua pergunta: como os judeus enxergam Jesus?

Atalaia é um mulher misteriosa e interessante que chama à atenção de qualquer homem, imagine a de um jovem desiludido e falido (em outros sentidos, mas terão que ler o livro para descobrir). Guershon é um velho suspenso sobre muletas que passa o dia em um aposento lendo, escrevendo e discutindo com desconhecidos ao telefone. O emprego diz que Shmuel deve permanecer algumas horas com o velho servindo-lhe de interlocutor em seus debates, alimentado-o, abrindo e fechando as persianas de acordo com a necessidade, ou não, da entrada de luz, sem esquecer de alimentar o peixe no aquário, sempre nos mesmos horários. 

São 51 capítulos e um glossário ao final. Não se assustem porque são 51 breves capítulos descritivo-narrativos do dia a dia dessa convivência, onde o final de um está diretamente, ou indiretamente, ligado à próxima discussão oferecida pelos personagens; o que às vezes não nos permite um pausa de tão  ofegante que ficamos por novos detalhes. 

O que mais me encantou no livro, um aprendizado para mim, é a forma como Oz se vale das repetições minuciosamente detalhadas, mas distintas, entre um capítulo e outro, e até entre um parágrafo e outro. Ao final do livro você consegue precisamente descrever todos os personagens, mental e fisicamente, seus aposentos, sua vida e sua participação e importância na obra. Algo muito marcante neste livro, e em outras obras de Oz, é o uso de referências históricas, em especial dos conflitos entre palestinos e judeus; é quando o autor dá ao leitor a possibilidade de outra visão daquela comumente imposta. 

O que acontece ao final, Shmuel termina sua tese? Como os judeus veem Jesus e Judas? Na minha humilde opinião, de leitora, esta grande narrativa também é uma grande armadilha. Leiam e me confirmem se não estou certa. 

O que precisam saber mesmo, é que ao final, Amós Oz nos salva, a todos, independente de religião ou crença.  É o que basta. Na humanidade está à salvação. Boa leitura. 

E, como diz minha mãe, Ave Oz!

Carolina Cavalcanti Bezerra

Post Scriptum: pretendo começar a assinar meus textos, por motivos óbvios, pelo menos para mim. Os demais textos deste blog foram escritos por mim também, mesmo estando assinado por Namorinho de Sofá (está também sou eu....risos)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Oscarizáveis" 2018

Como de praxe, todos os anos divulgamos a lista de indicados ao Oscar; premiação mais famosa do cinema internacional, mas não necessariamente a melhor ou mais justa. Com certeza o red carpet mais famoso, onde desfilarão os vestidos e joias mais exuberantes do momento. Será que haverá protesto? Será que o preto será a cor predominante dos vestidos das atrizes e convidados? Veremos!
São 24 categorias que tem como maior indicado o filme A Forma da Água, que concorrerá em 13 categorias, seguido por 8 indicações do filme de guerra Dunkirk. Três Anúncios para um Crime tem 7 indicações; com 6 cada disputam os filmes Trama Fantasma e O Destino de uma Nação.

Meryl Streep está de volta com sua 21ª indicação (batendo seu próprio recorde), mas não é a favorita. Teremos dois brasileiros concorrendo, o diretor Carlos Saldanha pela animação O Touro Ferdinando, e o produtor Rodrigo Teixeira, pela co-produção de Me Chame pelo meu Nome (melhor filme).

Então corram! Se são loucos por cinema e gostam de ver antes da premiação, que ocorrerá no próximo dia 4 de março, consulte a programação do cinema mais próximo de você. Eu, terei que esperar, porque aqui em Campina Grande a predileção são por filmes infantis, comédias, ou filmes que rendam uma boa bilheteria. 

Boa sessão de cinema para vocês! E caso não saibam o que assistir, selecionamos alguns trailers. Basta clicar sobre o nome do filme que aparece em destaque no primeiro parágrafo.

Namorinho de Sofá


Melhor Filme
"Dunkirk"
"Me chame pelo seu nome"
"O destino de uma nação"
"Corra!"
"Lady Bird - É hora de voar"
"Trama Fantasma"
"The Post - A Guerra Secreta"
"A forma da água"
"Três anúncios para um crime"

Melhor Diretor
Christopher Nolan ("Dunkirk")
Jordan Peele ("Corra!")
Greta Gerwig ("Lady Bird: É hora de voar")
Paul Thomas Anderson ("Trama fantasma")
Guillermo del Toro ("A forma da água")

Melhor Ator
Timothée Chalamet ("Me chame pelo seu nome")
Daniel Day-Lewis (“Trama Fantasma")
Daniel Kaluuya ("Corra!)
Gary Oldman ("O destino de uma nação")
Denzel Washington ("Roman J. Israel, Esq.")

Melhor Atriz
Sally Hawkins ("A forma da água")
Frances McDormand ("Três anúncios para um crime")
Margot Robbie ("Eu, Tonya")
Saoirse Ronan ("Lady Bird: É hora de voar")
Meryl Streep ("The Post - A Guerra Secreta")

Melhor Roteiro Adaptado
"Artista do desastre" (Scott Neustadter e Michael H. Weber)
"Me chame pelo seu nome" (James Ivory)
"A Grande Jogada" (Aaron Sorkin)
"Logan" (Scott Frank, James Mangold e Michael Green)
"Mudbound" (Virgil Williams and Dee Rees)

Melhor Roteiro Original
"Lady Bird: É hora de voar" (Greta Gerwig)
"Doentes de Amor" (Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani)
"Corra!" (Jordan Peele)
"A forma da água" (Guillermo del Toro)
"Três anúncios para um crime" (Martin McDonagh)

Melhor Ator Coadjuvante
Willem Dafoe ("Projeto Flórida")
Woody Harrelson ("Três anúncios para um crime")
Richard Jenkins ("A forma da água")
Sam Rockwell ("Três anúncios para um crime")
Christopher Plummer ("Todo o Dinheiro do Mundo")

Melhor atriz coadjuvante
Allison Janney ("Eu, Tonya")
Mary J. Blige ("Mudbound")
Lesley Manville ("Trama Fantasma")
Laurie Metcalf ("Lady Bird: É hora de voar")
Octavia Spencer ("A forma da água")

Melhor Filme em Língua Estrangeira
"Uma Mulher Fantástica" (Chile)
"O Insulto" (Líbano)
"Sem amor" (Rússia)
"Corpo e Alma" (Hungria)
"The Square: A arte da discórdia" (Suécia)

Melhor Design de Produção
“Blade Runner 2049”
“A bela e a fera”
"O destino de uma nação"
"Dunkirk"
“A forma da água"

Melhor Fotografia
"O destino de uma nação" (Bruno Delbonnel)
“Blade Runner 2049” (Roger Deakins)
“Dunkirk” (Hoyte van Hoytema)
“Mudbound” (Rachel Morrison)
“A forma da água” (Dan Laustsen)

Melhor Figurino
"A bela e a fera"
"O destino de uma nação"
"Trama Fantasma"
"A forma da água"
"Victória e Abdul"

Melhor Canção
"Remenber me" ("Viva - A vida é uma festa")
"Mighty river" (Mudbound)
Mystery of love ("Call me by your name")
"Stand up for something" ("Marshall")
"This is me" ("O rei do show")

Melhor Edição
"Em ritmo de fuga"
"Dunkirk"
"Eu, Tonya"
"A forma da água"
"Três anúncios para um crime"

Melhor Mixagem de Som
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Em ritmo de fuga"
"Blade Runner 2049"
"Dunkirk"
"A forma da água"

Melhor Edição de Som
“Em ritmo de fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A forma da água”
“Star Wars: The Last Jedi”

Melhor Animação
"O poderoso chefinho"
"The Breadwinner"
"Viva: A vida é uma festa"
"O Touro Ferdinando"
"Com Amor, Van Gogh"

Melhor Curta de Animação
“Dear Basketball”
"Garden Park"
“Lou”
“Negative Space”
“Revolting Rhymes”

Melhor curta
"Dekalb Elementary"
"The 11 o' clock"
"My Nephew Emmett"
"The silent Child"
"Waty Wote/All of us"

Melhor Trilha Sonora
"Dunkirk"
"Trama Fantasma"
"A forma da água"
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Três anúncios para um crime"

Melhor documentário
"Abacus: Pequeno o bastante para condenar"
"Visages villages"
"Ícaro"
"Últimos homens em Aleppo"
"Strong Island"

Melhor documentário em curta-metragem
"Edith+Eddie"
"Heaven is a traffic jam on the 405"
"Heroin(e)"
"Knife Skills"
"Traffic Stop"

Melhor maquiagem e cabelo
"O destino de uma nação"
"Victoria e Abdul"
"Extraordinário"

Melhores efeitos visuais
"Blade Runner 2049"
"Guardiões da galáxia Vol. 2"
"Kong: A ilha da caveira"
"Star Wars: Os últimos Jedi"
"Planeta dos Macacos: A guerra"

sábado, 6 de janeiro de 2018

Cheiro de livro em casa

Péssimo ter crise e não saber sobre o que falar, especialmente quando respira-se cultura em muitos lugares do mundo e com certeza não falta história para ser contada. O último post foi em setembro do ano passado e desde lá, nada me agradou que pudesse ser detalhado aqui. Talvez eu não tivesse boa para escrever, mas ai já é outra coisa...

Para não deixar o ano começar em branco por aqui vou falar um pouco da dificuldade de, em tempos corridos de trabalho, casa, estudos, trabalho, relacionamentos etc. se ler algo que não esteja envolvido com trabalho, casa (bulas de remédio, rótulo de produtos, receitas de pão) ou estudos. E como estar em férias serve também para colocar outros tipos de leitura em dia, vou contar um pouco do livro que acabei de ler e dos demais que povoam os cantos da minha casa.

Minha mãe chegou com essa obra no final do ano passado e deixou aqui, com outros exemplares, para eu ler. Tenho certeza que a capa lhe chamou à atenção na hora da compra (eu também teria me atraído). O livro é escrito pelo roteirista Antoine Laurain, cujas informações são praticamente inexistentes. Até na orelha do livro são apenas 9 linhas que o descrevem, brevemente. Comecei a ler o livro na quinta-feira e logo percebi que a leitura gostosa seria rápida. Terminei hoje e ontem não li mais do que 6 páginas. A narrativa se passa em Paris e conta a história de um livreiro que tenta descobrir a dona de uma bolsa perdida, sem saber sua identidade. A curiosidade do livreiro, as "charadas" sendo decifradas com a ajuda da filha inquieta e os passeios por Paris ou por outros escritores (ele é um livreiro!), fazem com que o leitor não queira descansar sem antes terminar o capítulo. Uma sacada do autor são os capítulos curtos. Talvez uma técnica dos roteiristas de TV e cinema. A leitura fica leve, as histórias vão se intercalando e os detalhes, repetidos e repetidos com certa maestria, fazem parecer que estamos ali envoltos em um grande suspense. O livro é singelo e temos aqui uma história que conta uma história, que contada entre tantas outras pequenas narrativas, é vivida por um livreiro, ou seja, um cara que conhece um bocado de histórias. Ou vocês conhecem livreiros (se é que não estão em extinção!) que exercem a profissão por sucesso, dinheiro ou lucro? Comercializar livros é uma arte, por si só já é uma história; e de amor. Ninguém vende livros por vender, sempre é uma paixão antes de tudo pelas histórias.
Bom, fica a dica levinha de leitura para iniciar o ano. O livro é da editora Alfaguara, ano 2016.

Vergonhosamente, dentre os outros livros espalhados pelos banheiro, quarto e sala e que ainda não foram concluídos estão Na Iminência do Extermínio - A História dos Judeus da Europa Antes da Segunda Guerra Mundial, de Bernard Wasserstein. O livro é de 2014 e tem 517 páginas. Não é só por isso que eu ainda não o terminei - a quantidade de páginas -, mas o motivo é que o livro é extremamente detalhista, especialmente na questão numérica de quantos eram e quantos se foram. E assim por diante. Tem um certo ar de enciclopédia nele, que cansa um pouco sua leitura. Então, este fica no banheiro e de vez em quando leio um parágrafo ou um capítulo (ai...517 páginas de letras miudinhas). 
Por fim, com um bocado de páginas também, tão grosso como uma bíblia ....E o vento levou, de Margareth Mitchell. Acho que vou morrer lendo esse livro. Eu já sou louca pelo filme e o livro é muito bem escrito, narrativa e descritivamente. Está em quase todas as listas de livros que devem ser lidos antes de morrer. Espero conseguir. O livro na versão completa tem 951 páginas, 63 capítulos, e eu estou na página 265, capítulo 16. Entendam....não é desleixo...as letras são miudinhas e outros textos acabam caindo em nossas mãos entre uma batalha e outra da Guerra Civil Americana. Mas, na verdade, para mim, é um prazer lê-lo assim, aos poucos, com calma. Foi publicado pela primeira vez em 1936, a minha edição é de 2012.

Então queridXs namoradores de sofá, leitura é tudo. Viajamos sem sair de casa, conhecemos pessoas, lugares, sem sair de casa. É pura imaginação. Prazer de ler e de aprender.

Fica a dica!
Feliz 2018!
Namorinho de Sofá