Vou dar minha cara a tapa aqui! Mas, digo logo que a culpa é de vocês que nas redes sociais e nas mídias ficam falando sobre o assunto. Eu, particularmente, nem gosto desse tipo de humor, apesar de reconhecer que é um gênero que atrai o público e têm características próprias no Brasil.
Bom. Depois de tanto blábláblá e de ouvir críticas de dois colegas de trabalho sobre o especial de Natal do Porta dos Fundos, A Primeira Tentação de Cristo - mesmo sem terem qualquer conhecimento sobre o programa -, parei ontem para assistir.
Dei algumas risadas, achei graça de algumas personagens, gostei de suas caracterizações humorísticas e também de suas reflexões sociais. Tem negro sendo atacado por sua cor, tem prostitua e ladra, tem corno e adúltera, Buda, Shiva e Jah engraçadíssimos fazem uma DR com Jesus e tem Deus...sim, Deus! Deus é um boçal que afirma ter concebido Jesus pelo método convencional, que arranca o braço de José duas vezes só para provar seu poder, que faz o que quer sem pensar no outro, só em si, e é a personificação do que somos hoje: intolerantes ao que é contrário as "nossas" supostas "ideologias". Se eu fosse católica-apostólica-romana ou uma ortodoxa-russa ficaria p... da vida mesmo com a representação de Deus, e não de Jesus.
A polêmica toda gerada pelo especial está no fato de Jesus ter experienciado (no programa da Netflix) uma relação homoafetiva durante os 40 dias vagando pelo deserto. Ao retornar e tendo supostamente "saído do armário", Jesus não tem certeza se quer assumir sua missão como filho de Deus. Surgem vários conflitos, Jesus está confuso, descobre que José não é seu pai e que agora tem super poderes.
Então. Como não achei nada demais no programa, o que me fez refletir e falar sobre o assunto, o mote, além do blábláblá midiático claro!, é a falta de consciência das pessoas - ou simples alienação, não sei - sobre o que pode e o que não pode, o que ou não atacar, desrespeitar ou botar fogo. Pessoal! No episódio há manifestação de ódio racial! Pode? Roubar e ser adúltero, pode? Enganar também pode, pelo visto, porque ninguém falou nada sobre tais questões. Que nome dar a isso?
Voltando ao meu mote, a intolerância (aqui, ausência de consciência coletiva). Que diferença faz uma pessoa ser gay, se a mesma realizar suas atividades, tocar à vida normalmente e pagar impostos como todo mundo? Nenhuma! Jesus estar sendo representado (lembrem-se, é representação) pelo programa como homossexual nada mais é do que a possibilidade que temos, a partir de algo que nos incomoda, de refletirmos sobre o que vem acontecendo no mundo, à violência e as agressões ao público LGBTQ+, o racismo e os crimes de ódio em ascensão e todos os outros assuntos expostos pelo programa. Estão lá, todos os 7 pecados capitais gritando na nossa cara: soberba, avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça. Todos são evidenciados e cuspidos em nós! E o que te incomoda é Jesus ser representado como gay? Se Jesus ser representado como um homossexual te choca, mas centenas de homossexuais serem agredidos e mortos todos os anos não faz diferença, você tem um problema.
Bom. Exausta em ter que falar sobre intolerância as diferenças, mas era preciso, gosto de dizer que a arte salva, mas a mesma também serve para nos possibilitar outros olhares, especialmente ao diferente. E aceitar. Aceitar é importante. Leonardo da Vinci refletiu assim sobre a arte: "a arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível".Friedrich Nietzsche, por outro lado, afirmou que "a arte existe para que a realidade não nos destrua".
É isso! Reflitamos!
Fica a dica!
Carol Cavalcanti
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O Porta dos Fundos é um produtora de vídeos para a internet que tem um canal no YouTube e segundo consta, hoje, é o sexto canal de maior audiência na plataforma, no Brasil. Recentemente, recebeu o Emmy Internacional de Melhor Comédia, também sobre um especial de Natal apresentado em 2018 intitulado Se Beber Não Ceie.