Se você não assisitiu ainda ao seriado 'Coisa Mais Linda', da Netflix, corra. Assista independente de qualquer coisa que seja dita aqui. Lembre-se sempre que gosto cinematográfico (ou nesse caso, de séries), cada um tem o seu.
Resumo: são 7 capítulos ambientados no Rio de Janeiro, tendo, incialmente, Maria Luiza (uma "caipira" de São Paulo) como protagonista. A filha de um rico fazendeiro tem o sonho de viver de música na Cidade Maravilhosa. E, ao ir em busca de seu marido, se depara com uma realidade totalmente inesperada, além de condições para sobreviver diferentes das que tinha ou esperava. Isso tudo e todos os demais dramas são conduzidos por uma bela trilha sonora de muita MPB e Jazz.
Mara Luiza encontra mais três mulheres - Adélia, Tereza e Lígia - que estão em momentos de vida distintos, mas que vão mudar sua vida, mas também trarão consigo uma série de conflitos: a discriminação com o negro, o machismo, a homossexualidade, a violência contra a mulher e o descaso com que as mesmas são tratadas pela sociedade. Inclusive por ourtas mulheres, satisfeitas com seu papel de mulher e mãe submissas.
Esse é o viés do seriado. Ele é atualmente político. Eu digo "atualmente" porque essas coisas acontecem desde que o mundo é mundo e que Cabral redescobriu o Brasil, só que hoje estão mais em voga, na boca o povo, nas redes sociais, no noticiário. Então seus diretores (são vários) aproveitam para tocar na feriada com força e talvez, vejam bem, talvez, nem todo mundo goste de ver por esse prisma do "politicamente correto". Mas, é uma ferida que não deve ser estancada e sim, discutida.
A mulher é vista no seriado como objeto incapaz de ter seu próprio negócio e ser desquitada é coisa de puta. Mudou alguma coisa? Claro que a sociedade evoluiu, não estou dizendo ao contrário. Hoje ser mãe solteira não é mais um bicho de sete cabeças, mas a violência física e emocial que as mulheres sofrem em pleno século 21 tem retornado e de formas que não imaginávamos mais presenciar. Por isso dói tanto ver mulheres serem violentadas e agredidas no seriado. Porque ainda acontece e porque ainda nos machuca MUITO.
Sobre o ser negro, NOSSA (!), como somos preconceituosos. O seriado retrata uma época em que existiam (quando funcionavam) elevadores sociais e para empregados. E nada de querer usar o dos patrões. Os tempos mudaram. Ou não. Recentemente nas redes sociais viralizou um vídeo de um senhor negro que ajudou (ou serviu?) uma mulher branca atravessar um enxurrada de água no mesmo Rio de Janeiro, que trouxe à tona novamente tal discussão. O lugar do negro na sociedade brasileira.
Sobre estar casada ou querer viver seus sonhos, o seriado mostra a mulher no mundo do trabalho marginalizada, vista como um pedaço de carne a ser consumido pelo mundo masculino. E se não aceitasse...
São essas e muitas outras questões que este primeiro ano da série retrata. O lugar da mulher brasileira no século XX. Para refletirmos. Enquanto série, não posso deixar de louvar a qualidade da mesma em todos os aspectos. Bela fotografia, uma cuidadosa direção de artes, cenários e de figurinos. Grandes atuações. Um roteiro que às vezes parece ridículo, mas que na verdade representa aquilo que muitas de nossas mães e avós viveram e sofreram, e que podem parecer ridículas, mas são na verdade, retrato de uma realidade passada quem vem retornando, em tempos difícies para todos. Mas, sempre, mais difícies para nós mulheres.
Fica a dica!
Carol Cavalcanti