quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Rota de Colisão

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Nas férias conseguimos ler mais coisas, não é? Não que eu esteja cem por cento de férias... bom, comecei a ler o livro Rota de Colisão, da escritora Vitória Maria dia desses. Tinha visto uma entrevista da autora para a TVUEPB após o lançamento do livro, na Universidade Estadual da Paraíba, dia oito de novembro deste ano. Fiquei curiosa com a história e consegui emprestado um volume. Comecei a fazer anotações sobre o livro, mas confesso que desisti.

R.C. têm 21 capítulos curtos, linguagem simples que lembra muito a escrita de um diário, mas que aos pouquinhos vão evoluindo, a cada novo drama, e se aproximando do que a literatura conhece como "conto", ou seja, uma escrita breve focada em um assunto, com poucos personagens e um tempo determinado.

Neste livro a autora vai falar de si, vai expurgar em linhas e mais linhas, algo que lhe marcou para o resto da vida. Mas, para chegar até o drama que conduz sua narrativa, a mesma nos conta um pouco da sua trajetória como uma garota do interior da Paraíba. A conquista da universidade pública, a necessidade de trabalhar para ajudar em casa, mas também para ter independência, além das amizades e romances que lhe acompanharam no período que a história é contada. Para mim, esta é a parte mais frágil da escrita e para uma nova edição merece uma boa revisão, em todos os sentidos. Agregar (juntar) os capítulos seria algo interessante para dar mais consistência à escrita, talvez, deixando de lado, tantos vícios de linguagem e regionalismos desnecessários (se repetem muito).




Por outro lado, quando a autora foca a escrita na sua rota de colisão, a escrita se fortalece, flui. Creio que não poderia ser diferente, a evolução da escritora Vitoria Maria e também da personagem Milla.

Por todo livro destaca-se sua habilidade descritiva das pessoas - Alice, com seus olhos negros de quem não deixa passar nada" -, dos espaços e dos acontecimentos. Também são bem construídos os diálogos. São tão ágeis a ponto de nos sentirmos parte deles, enquanto leitores.

A narrativa é um desabafo. O assunto extremamente atual. A coragem da autora, do meu ponto de vista, é o que a tornará uma grande escritora, caso isso seja de seu desejo. Para muitas, Vitória Maria será uma inspiração como mulher, algo que ela deve se orgulhar.

Enfim, a leitura da obra é enriquecedora para os que estão iniciando a vida de escritor e dando as primeiras tecladas. Para mim, as recordações foram das primeiras escritas na máquina de datilografia e dos vários diários que escrevi e depois rasguei com o passar dos anos.

Ah... como os dramas adolescentes são parecidos, não importa onde vivemos, as rotas de colisão são muito parecidas. Sobre a história do livro....sim, sim, sei que não falei quase nada. Vocês terão que ler a obra e tirarem suas próprias conclusões. Certo?

Bom, para fechar, não fiz aqui o papel de crítica literária, apesar de em alguns momentos parecer que estou "pegando no pé" da escrita. Aqui, faço parte do sonho de Vitória Maria divulgando sua obra e mais especialmente, a escritora. Em tempos de pouca leitura, de livrarias fechando, faço aqui a minha parte para que os livros nunca acabem! Boa leitura.

Fica a dica!
Carol Cavalcanti


Rota de Colisão
Ano: 2017
Editora PoD - Rio de Janeiro

sábado, 24 de novembro de 2018

O homem e o trabalho no filme nacional 'Arábia', de Dumans e Uchôa

Para me fazer feliz precisa pouco. Um presente que adoro receber e uma experiência que amo compartilhar são os filmes e suas histórias. Recentemente, fui presenteada com cinco filmes e um deles é o destaque de hoje; porque você me pediu para falar sobre e também porque é um filme que vale a pena ser conhecido. Então vamos lá!




Diretores: João Dumans, Affonso Uchôa
Com: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Gláucia Vandeveld, Renata Cabral, Renan Rovida.
Gênero: Drama.
Produção: Brasileira
Ano: 2017
Duração: 97 minutos
Várias premiações, menções e participações em festivais internacionais. Nacionais? Não, não encontrei nenhum até o momento.






O filme narra, a partir da descoberta de anotações de um operário recém falecido, como foram seus últimos anos de vida e de luta para sobreviver, absorto pelo sistema de produção que engessa e desumaniza os seres humanos; o do trabalho manual, braçal, forçado e quase escravo das fábricas, das grandes fazendas produtoras de frutas e da construção civil.
O início do filme traça a trajetória de Cristiano, personagem que tenta a qualquer custo não ficar parado para não ser passado para trás. Por todos os tipos de empregos passou, mas apenas no último é que consegue perceber no corpo cansado a opressão a que ele e seus colegas eram submetidos.

" [...] Pela primeira vez parei para ver a fábrica. Tristeza de estar ali. Foi como acordar de um pesadelo [...]". 

Outro ponto interessante e que preciso tratar aqui, é do aspecto técnico do filme, da filmagem em si que parece remeter muito aos filmes realizados analogicamente. Por quase todo o filme, podemos dizer que a história é contada durante os anos 1980 ou 1990. Cidades pequenas que não evoluíram no tempo, cinzas por causa da emissão da fuligem das fábricas, puteiros de quinta categoria e a diversão ficando por conta das atividades realizadas pela própria fábrica, como se o tempo tivesse parado. Mas, lá pelas tantas do filme, Cristiano faz um ligação com um celular da era smartphone e aqui, se pudesse questionar os diretores, perguntaria: ato falho ou proposital? Deixo o questionamento para os cinéfilos de plantão.

Este não é apenas um filme sobre às condições precárias de determinados tipos de atividades ou sobre as condições mínimas de vida dessas pessoas, mas sim das consequências de todas essas relações. As pessoas adoecem, as pessoas não amam, as pessoas fogem em busca de algo melhor e acabam sendo esmagadas, e muitas vezes mortas, pelo cansaço do trabalho pesado. É um filme para valorizarmos o que comemos, o carro que temos e as estradas pelas quais dirigimos, porque esses seres invisíveis é que nos proporcionam alimentos frescos em nossas mesas, enquanto são tratados como (novos) escravos vivendo à míngua.

O quanto nós, que trabalhamos em salas climatizadas e não sabemos o que é o trabalho braçal a não ser ao vislumbrar as rugas e mãos calejadas de nossos jardineiros de três em três meses, conhecemos desses homens e mulheres que nos alimentam, mas mal tem condições de comer? Vivemos ainda hoje, aqui no Brasil, sustentados por mão-de-obra escrava? A minha leitura final, ao concluir o filme e me sentar em frente à tela do computador em uma cadeira muito confortável que comprei com meu trabalho intelectual que me causa, às vezes, rugas de preocupação, é que não conhecemos a vida real que levam essas pessoas. São invisíveis e não as valorizamos. Simples assim. Ponto.


Mas, como este blog é para falar de cultura e a sétima arte é uma delas, fica a minha dica para assistirem a um belo filme nacional, com enquadramentos interessantes e uma excelente trilha sonora. O roteiro, de tão simples e real chega a incomodar. Faca afiada.

Só posso agradecer o presente e que venham mais da mesma qualidade.

Carol Cavalcanti

Ah, sobre o título do filme é uma metáfora que caiu como uma luva, mas para entender vai ter que assistir até o final, mesmo que te incomode.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Brasil tem o maior acervo de literatura de cordel disponível para pesquisa. Você sabia?



O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPHAN) aprovou ontem dia 19 de setembro, em decisão unânime, o gênero literário cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Isso significa, além de selar que o cordel é uma expressão linguística e cultural criada no Brasil, que o país deve subsidiar sua produção, divulgação e preservação de acervo. 

Para quem desconhece, cordel são aqueles livrinhos coloridos, pequenininhos e muitas vezes expostos em varais pelas feiras livres do interior do Brasil. São obras de baixo custo para produção, mas que tem uma grande importância para a cultura brasileira e especialmente nordestina. É uma produção tipicamente nordestina. Não deixemos de destacar isto: é do nordeste, é do Brasil!


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Nos cordéis é possível conhecer a cultura nordestina através de histórias que retratam a cultura, o folclore, o sertão, as lutas de Lampião ou o amor de Maria Bonita pelo cangaceiro mais famoso que já tivemos conhecimento. Atualmente, podemos encontrar sátiras políticas e até Elvis Presley em prosa sendo declamado pelos cordelistas, que além de viverem da venda desses materiais, declamam seus versos como forma de sustento. Podemos dizer que declamar versos cordelísticos é uma profissão para muitos artistas, ainda pouco ou nada conhecidos no país. 

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Uma boa notícia é que o maior acervo de cordéis, com mais de 18 mil títulos, encontra-se no Brasil, e sob tutela da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). No ano de 2004 a instituição criou a Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, para conservar e disponibilizar aos pesquisadores interessados além de livros e periódicos, uma diversidade de cordéis e de temáticas reunidas em um só local.

A aquisição do acervo foi feita pelo Governo do Estado da Paraíba no ano de 2003 e aos interessados, as visitas podem ser agendadas eletronicamente com pelo menos dois dias de antecedência da data da visita. Acesse aqui e consulte o acervo.

Algumas obras estão expostas no Museu de Artes Popular da Paraíba (MAPP), em Campina Grande (PB), que oferece oficinas de produção de cordéis para grupos interessados. 

A cultura nordestina declamada em verso e prosa, merecidamente, agora é Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro

Fica a dica!
Carol Cavalcanti