terça-feira, 1 de abril de 2014

50 anos do Golpe de 64: a temática na sétima arte

O Brasil relembrou ontem, 31 de março, os cinquenta anos do Golpe Militar de 1964. O início de uma ditadura que matou, torturou e acabou com os sonhos de milhares de brasileiros por uma vida "democrática", "justa" e qualquer outro adjetivo que remeta ao desenvolvimento igualitário social; durou 21 anos.

A maioria das músicas, livros, peças teatrais e filmes produzidos nessa época foram censurados. A matéria de hoje é para recordar e não deixarmos esquecer que qualquer tipo de cerceamento à liberdade de expressão ou a de "ir e vir" dos cidadãos de qualquer parte do mundo não pode ser mais tolerada. Não podemos esquecer do nazismo alemão ou do fascismo italiano. Nossos "governantes" à época foram beber nessas fontes. Não devemos esquecer dos nossos algozes, nem de nossos fantasmas.

Para isso relembramos alguns filmes que trataram a temática, bem como sugerimos a página no Facebook Ditadura e Tortura Nunca Mais e depoimentos sobre o período. 

Filmes: 

Cabra Marcado para Morrer (1984) do diretor Eduardo Coutinho tem uma história pré-produção muito interessante onde "Em fevereiro de 1964 inicia-se a produção (...), que conta a história política de líder da liga camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. No entanto, com o golpe de 31 de março, as forças militares cercama locação no engenho da Galiléia e interrompem a filmagem" (FONTE). De fácil acesso pode ser baixado no Youtube e poderá ser assistido hoje pelos alunos da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) na Programação Debates: Ditadura nunca mais, que se realizará durante toda essa semana.



O que é isso companheiro, filme de Bruno Barreto que conta a história da troca de presos políticos pelo embaixador americano sequestrado pelo MR8 concorreu ao Urso de Prata no Festival Internacional de Berlim em 1997 e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1998. 

Ação entre amigos, é um produção com temática pós-ditadura. Quer dizer...a história trata do encontro de amigos torturados na ditadura e que sobreviveram para poder se vingar de um de seus algozes. O suspense do diretor Beto Brant, é uma produção de 1998, com elenco que conta com Leonardo Villar, Zécarlos Machado, Cacá Amaral, Genésio de Barros e Fernando Torres. Ganhou os prêmios de Melhor Direção, Fotografia e Trilha Sonora no Festival de Cinema de Recife. Ganhou também um prêmio em Chicago e outro em Miami (EUA).

Zuzu Angel (2006), é um filme que vai tratar da mulher e sua representatividade na ditadura. Conta a história de mães, mulheres e irmãs que perderam seus filhos, netos e irmãos para os porões da tortura militar, apenas pela história de uma única mãe, a estilista, Zuzu Angel. O filme conta com dois 'globais' de peso, Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira. Mas, nem por isso é um filme de clichês. É uma boa produção que vale ser vista. Ganhou o prêmio de Melhor Figurino no Festival de Cinema Nacional, dentro outras indicações.

O ano em que meus pais saíram de férias, filme de 2006 dirigido por Cao Hamburger e estrelado por Caio Blat é o mais recente de todas as produções cinematográficas sobre a temática que teve destaque na bilheteria nacional. Uma peculiaridade é o mote do filme: um casal para se proteger e proteger seu filho, foge da repressão e promete voltar até a Copa do Mundo de 1970. A mistura de dor (a violência da ditadura) e a alegria (o futebol é a paixão do brasileiro) levou o diretor à uma indicação em 2007 ao Urso de Ouro no Festival Internacional de Berlim, ganhando no total 26 prêmios entre nacionais e internacionais e mais de 20 indicações em outros festivais.

Outros filmes nacionais podem ser conferidos nas locadoras: Prá frente Brasil (1983), Cabra-Cega (2004), Batismo de Sangue (2006), Cara ou Coroa (2012), entre outros.

Num tempo em que a barbárie assola o mundo e em especial o Brasil, que cheio de contrastes acredita que mulher pede para ser estuprada porque não tem poder de decisão sobre o uso de seu próprio corpo (sendo para os homens objeto de consumo, mercadoria), deixamos aqui nossa contribuição para o não esquecimento de tempos sombrios. Um história suja que não pode ser esquecida, para não ousar ser repetida.

Fica a dica, mas fica(m) a(s) indignação(ões).

Namorinho de Sofá

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Hilda Hilst: dez anos sem a poeta das luxúrias

Hilda (de Almeida Prado) Hilst faleceu no dia 4 de fevereiro de 2004. 

Perdemos sua poesia, mas também perdemos um ser humano antenado com o mundo real, com suas belezas, mas também com suas mazelas. Contestadora, briguenta e de 'língua solta', amava os animais (em especial os cães). Amava a natureza, odiava contas e tudo mais que a rotina lhe impunha como ser humano. A bem da verdade quem conheceu a vida de H.H. sabe que ela não precisava se preocupar com essas questões domésticas, tinha sempre alguém para desobrigá-la de tais obrigações, e assim, poder trabalhar em sua escrita, em sua obra, em seu legado. Foi assim por toda a sua vida...
Google

O mote....a luxúria, é um dos sete pecados capitais. A luxúria é a perversão do ser humano (segundo o catolicismo, que delimita todas as suas vertentes). Hilda não era perversa, mas sua escrita sempre foi luxuriosa no sentido de suscitar o erotismo, o sensual, o prazer das paixões, da vida e do belo. Mais próxima do final de sua vida seus textos eram mais ácidos e dilacerantes para uma sociedade que não compreendia a contemporaneidade de seus pensamentos. Sejam nas palestras que proferiu (sempre como homenageada) ou nos últimos textos da coluna que escreveu durante alguns anos para um jornal da cidade de Campinas - SP, Hilda sempre foi direta, autêntica e verdadeira nos sentimentos que expressava e que também contestava.

 www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=CMUHE042753

H.H. faleceu na cidade de Campinas, morando em sua Casa do Sol. Ambiente límpido e puro que recebeu a energia de poetas e artistas como Caio Fernando Abreu e Lygia Fagundes Telles, sua grande amiga. 

Casa do Sol foi sua morada física, do corpo, mas também, da alma, da criação, da criatividade, das palavras doces e das palavras mais ásperas. Dos cães, dos amigos e dos curiosos. Tive a oportunidade de conhecer a escritora (por poucas horas) e seu santuário de palavras soltas ao vento e de Baco, pois fomos recebidas com uma taça de vinho. Se não tivesse ficado tão emocionada teria aproveitado mais aquela oportunidade. Não bebemos o vinho, pois era muito cedo e o motivo de nossa visita era outro; bebemos da sua presença. Me emociono de lembrar até hoje.


Das luxúrias das palavras escritas para a luxúria da música, não podemos deixar de lembrar de um de seus trabalhos, em parceria com Zeca Baleiro. A autora convidou Baleiro para musicar alguns de seus poemas. E o que se vê - ouve, melhor dizendo - é a comunhão perfeita de emoções no CD Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio. Como parceiros nas músicas podemos ouvir Rita Ribeiro, Maria Bethânia, Mônica Salmaso, Ângela Vieira, Zélia Duncan e outras.


                        
Para conhecer mais a obra dessa escritora brasileira um dos contatos é o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio (CEDAE) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Boa parte da obra da autora foi adquirida pela instituição e está sobre sua responsabilidade.



"A vida é crua. Faminta como bicos de corvos. 
                         E pode ser tão generosa e mítica: arroio, olho d'água, bebida. 
                                               A vida é líquida". (Hilda Hilst)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Meu nome é Gal! 40 anos de carreira e uma voz única

Nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, na cidade de Salvador, mais conhecida como Gal Costa, tem uma voz inconfundível. Após anos fora da mídia e dos palcos, sem gravar ou se apresentar e, prestes a completar 70 anos em 2015, parece que foi ontem que Gal soltou sua voz pela primeira vez. Sua mais recente apresentação na cidade de João Pessoa, no dia 25/01/2014, durante o evento Extremo Cultural, com a Praia de Tambaú lotada de pessoas de todas as idades foi emocionante. 

Ao entrar no palco, às 22 horas, deixou o público anestesiado ao perceber que pouca coisa havia mudado. Além da idade (que chega para todos, inclusive para os fãs), o que chamou a atenção foi a apresentação do último trabalho, Recanto (2011), com seus arranjos diferentes e extravagantes comparados com aqueles aos quais estamos acostumados, mesclado com antigos sucessos; ora com arranjos convencionais, ora com a batida eletrônica do novo trabalho.

Foi uma apresentação de 'tirar o chapéu'. Faltou apenas Vaca Profana, mas teve Vapor Barato (Jards Macalé e Waly Salomão) e Mãe (Caetano Veloso). Além da incrível banda, ou trio, que a acompanha nesse trabalho e merece destaque: Domenico Lancelotti (baixo e voz), Pedro Baby (guitarra, violão, voz) e Bruno Di Lullo (bateria, arranjos e voz).

Pedro Baby, filho de Baby Consuelo (ou Baby do Brasil) e Pepeu Gomes é o grande destaque do show. Com um domínio dos instrumentos que executa o instrumentista se funde em um. Pedro incorpora, transborda musicalidade, desafia os ouvidos do público, ultrapassa o grande instrumentista que é Pepeu. 

Não podemos deixar de destacar também a sintonia entre todos. Fica evidente a satisfação (e busca pela perfeição sonora) dos quatro no palco, o que torna o show muito mais prazeroso.

Se você perdeu curta algumas fotos, e o vídeo de Bruno Garcia da noite do show (até agora o melhor que encontramos).




Recanto (Universal Music)
Ano:  2011
Letra: Caetano Veloso
Produção: Moreno Veloso
Bases Eletrônicas: Domenico Kassin
Faixas:
1. Recanto Escuro
2. Cara do Mundo
3. Autotune Autoerótico
4. Tudo Dói
5. Neguinho
6. O Menino
7. Madredeus
8. Sexo e Dinheiro
9. Miami Maculelê
10.Segunda

Fica a dica!
Namorinho de Sofá