Para me fazer feliz precisa pouco. Um presente que adoro receber e uma experiência que amo compartilhar são os filmes e suas histórias. Recentemente, fui presenteada com cinco filmes e um deles é o destaque de hoje; porque você me pediu para falar sobre e também porque é um filme que vale a pena ser conhecido. Então vamos lá!
Diretores: João Dumans, Affonso Uchôa
Com: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Gláucia Vandeveld, Renata Cabral, Renan Rovida.
Gênero: Drama.
Produção: Brasileira
Ano: 2017
Duração: 97 minutos
Várias premiações, menções e participações em festivais internacionais. Nacionais? Não, não encontrei nenhum até o momento.
O filme narra, a partir da descoberta de anotações de um operário recém falecido, como foram seus últimos anos de vida e de luta para sobreviver, absorto pelo sistema de produção que engessa e desumaniza os seres humanos; o do trabalho manual, braçal, forçado e quase escravo das fábricas, das grandes fazendas produtoras de frutas e da construção civil.
O início do filme traça a trajetória de Cristiano, personagem que tenta a qualquer custo não ficar parado para não ser passado para trás. Por todos os tipos de empregos passou, mas apenas no último é que consegue perceber no corpo cansado a opressão a que ele e seus colegas eram submetidos.
" [...] Pela primeira vez parei para ver a fábrica. Tristeza de estar ali. Foi como acordar de um pesadelo [...]".
Outro ponto interessante e que preciso tratar aqui, é do aspecto técnico do filme, da filmagem em si que parece remeter muito aos filmes realizados analogicamente. Por quase todo o filme, podemos dizer que a história é contada durante os anos 1980 ou 1990. Cidades pequenas que não evoluíram no tempo, cinzas por causa da emissão da fuligem das fábricas, puteiros de quinta categoria e a diversão ficando por conta das atividades realizadas pela própria fábrica, como se o tempo tivesse parado. Mas, lá pelas tantas do filme, Cristiano faz um ligação com um celular da era smartphone e aqui, se pudesse questionar os diretores, perguntaria: ato falho ou proposital? Deixo o questionamento para os cinéfilos de plantão.
Este não é apenas um filme sobre às condições precárias de determinados tipos de atividades ou sobre as condições mínimas de vida dessas pessoas, mas sim das consequências de todas essas relações. As pessoas adoecem, as pessoas não amam, as pessoas fogem em busca de algo melhor e acabam sendo esmagadas, e muitas vezes mortas, pelo cansaço do trabalho pesado. É um filme para valorizarmos o que comemos, o carro que temos e as estradas pelas quais dirigimos, porque esses seres invisíveis é que nos proporcionam alimentos frescos em nossas mesas, enquanto são tratados como (novos) escravos vivendo à míngua.
O quanto nós, que trabalhamos em salas climatizadas e não sabemos o que é o trabalho braçal a não ser ao vislumbrar as rugas e mãos calejadas de nossos jardineiros de três em três meses, conhecemos desses homens e mulheres que nos alimentam, mas mal tem condições de comer? Vivemos ainda hoje, aqui no Brasil, sustentados por mão-de-obra escrava? A minha leitura final, ao concluir o filme e me sentar em frente à tela do computador em uma cadeira muito confortável que comprei com meu trabalho intelectual que me causa, às vezes, rugas de preocupação, é que não conhecemos a vida real que levam essas pessoas. São invisíveis e não as valorizamos. Simples assim. Ponto.
Mas, como este blog é para falar de cultura e a sétima arte é uma delas, fica a minha dica para assistirem a um belo filme nacional, com enquadramentos interessantes e uma excelente trilha sonora. O roteiro, de tão simples e real chega a incomodar. Faca afiada.
Só posso agradecer o presente e que venham mais da mesma qualidade.
Carol Cavalcanti
Ah, sobre o título do filme é uma metáfora que caiu como uma luva, mas para entender vai ter que assistir até o final, mesmo que te incomode.
Várias premiações, menções e participações em festivais internacionais. Nacionais? Não, não encontrei nenhum até o momento.
O filme narra, a partir da descoberta de anotações de um operário recém falecido, como foram seus últimos anos de vida e de luta para sobreviver, absorto pelo sistema de produção que engessa e desumaniza os seres humanos; o do trabalho manual, braçal, forçado e quase escravo das fábricas, das grandes fazendas produtoras de frutas e da construção civil.
O início do filme traça a trajetória de Cristiano, personagem que tenta a qualquer custo não ficar parado para não ser passado para trás. Por todos os tipos de empregos passou, mas apenas no último é que consegue perceber no corpo cansado a opressão a que ele e seus colegas eram submetidos.
" [...] Pela primeira vez parei para ver a fábrica. Tristeza de estar ali. Foi como acordar de um pesadelo [...]".
Outro ponto interessante e que preciso tratar aqui, é do aspecto técnico do filme, da filmagem em si que parece remeter muito aos filmes realizados analogicamente. Por quase todo o filme, podemos dizer que a história é contada durante os anos 1980 ou 1990. Cidades pequenas que não evoluíram no tempo, cinzas por causa da emissão da fuligem das fábricas, puteiros de quinta categoria e a diversão ficando por conta das atividades realizadas pela própria fábrica, como se o tempo tivesse parado. Mas, lá pelas tantas do filme, Cristiano faz um ligação com um celular da era smartphone e aqui, se pudesse questionar os diretores, perguntaria: ato falho ou proposital? Deixo o questionamento para os cinéfilos de plantão.
Este não é apenas um filme sobre às condições precárias de determinados tipos de atividades ou sobre as condições mínimas de vida dessas pessoas, mas sim das consequências de todas essas relações. As pessoas adoecem, as pessoas não amam, as pessoas fogem em busca de algo melhor e acabam sendo esmagadas, e muitas vezes mortas, pelo cansaço do trabalho pesado. É um filme para valorizarmos o que comemos, o carro que temos e as estradas pelas quais dirigimos, porque esses seres invisíveis é que nos proporcionam alimentos frescos em nossas mesas, enquanto são tratados como (novos) escravos vivendo à míngua.
O quanto nós, que trabalhamos em salas climatizadas e não sabemos o que é o trabalho braçal a não ser ao vislumbrar as rugas e mãos calejadas de nossos jardineiros de três em três meses, conhecemos desses homens e mulheres que nos alimentam, mas mal tem condições de comer? Vivemos ainda hoje, aqui no Brasil, sustentados por mão-de-obra escrava? A minha leitura final, ao concluir o filme e me sentar em frente à tela do computador em uma cadeira muito confortável que comprei com meu trabalho intelectual que me causa, às vezes, rugas de preocupação, é que não conhecemos a vida real que levam essas pessoas. São invisíveis e não as valorizamos. Simples assim. Ponto.
Mas, como este blog é para falar de cultura e a sétima arte é uma delas, fica a minha dica para assistirem a um belo filme nacional, com enquadramentos interessantes e uma excelente trilha sonora. O roteiro, de tão simples e real chega a incomodar. Faca afiada.
Só posso agradecer o presente e que venham mais da mesma qualidade.
Carol Cavalcanti
Ah, sobre o título do filme é uma metáfora que caiu como uma luva, mas para entender vai ter que assistir até o final, mesmo que te incomode.